Cabeças de rádio

OVNI para os que nunca se dedicaram a encontrar algo além da pop music mundial, a banda britânica Radiohead é pérola para os que sempre tiveram um pé (ou os dois mesmo) no alternativo.

Começaram com o álbum The Bends e já obtiveram ótima repercussão. Mas, foi com o aclamado Ok Computer em 1997, que eles alcançaram o auge do sucesso e da qualidade musical. Muitas revistas e jornais elegeram o álbum (alguns anos depois) como o melhor disco de rock já lançado na história. E então você pergunta: porquê?

Radiohead é sinônimo de uma música vanguardista, algo que já não se esperava na década de 90 (e talvez não se espere mais hoje em dia também). Uma mistura do que existiu de melhor no rock e do que ainda existiria tanto nesse estilo como na música eletrônica.

As letras de Thom Yorke (vocalista) refletiram e continuam revelando as camadas deste mundo em diferentes aspectos. As guerras, as novas tecnologias, e o liquidificador paranóico que pode juntar tudo isso. Não é a toa que a faixa mais famosa do CD, considerada emblemática para o rock mundial, Paranoid Android, declara:


Quando eu for rei você será o primeiro contra a parede
Com suas opiniões que não servem para absolutamente nada
O que é isso?
(Eu posso ser paranóico, mas não um andróide)

Todo o pessimismo de suas letras, atraiu a muitos justamente por refletir o pessimismo daquela geração. Atualmente, parece que temos um mundo que já não se importa com este pessimismo (e esse não se importar, também já revela outros problemas), porém, em Fake Plastic Trees um dos primeiros singles do Radiohead, do cd The Bends, já anunciava que os relacionamentos de plástico eram reais:

Ela parece verdadeira
Ela tem sabor verdadeiro
Meu amor artificial de plástico
Mas não posso evitar o sentimento
Eu poderia explodir através do teto se eu simplesmente me virar e correr

E Isto me desgasta
Se eu pudesse ser quem você queria
o tempo todo

Airbag, faixa de abertura do Ok Computer, mostrou então a aflição de Thom Yorke revelando algo que muito nos interessa. Na letra, Yorke traz a idéia de que somente nascendo de novo (na sua visão, morrendo e começando de novo, ou destruindo tudo com uma Guerra Mundial) seria possível voltar para salvar o mundo. Então ele promete:

Na próxima Guerra Mundial
Em uma curva fechada de um caminhão
Eu nasço de novo
Em um sinaleiro de neon
Correndo para cima e para baixo
Eu nasço de novo
Numa explosão interestelar
Eu estou de volta para salvar o universo
No profundo sono
da inocência
Eu nasço de novo
Num carro alemão veloz
Estou impressionado por ter sobrevivido
Um airbag salvou minha vida
Numa explosão interestelar
Eu estou de volta para salvar o universo

A letra também revela mais pessimismo dessa geração: já não é mais salva por ideologias, visões políticas ou por Deus. Mas por um airbag. Airbag que aparece como salvador apenas na situação limite, no instante que precede um possível fim. Não, não foi um anjo, foi apenas um instrumento da tecnologia atual. Mais vazio e niilismo.

O conceito e a crítica a ele mesmo, continua por aí. Recentemente, foi bastante difundida no underground da música brasileira, a canção Semáforo, do grupo Vanguart. Com um som e conceitos bastante influenciados por Radiohead, a banda então canta:

(…)
Eu não ouço você
Eu não creio em você

Só acredito no semáforo
Só acredito no avião
Eu acredito no relógio
Só acredito
Só acredito
(…)

Todos meus amigos
Todos meus amigos….querem…morrer..uuuuuu
Querem morrer

Cabeças de rádio que parecem estar mais antenadas do que muitos em perceber, analisar e criticar este mundo. Músicas que nos fazer pegar um ônibus espacial e em Júpiter olhar para a Terra e dizer tudo isso…ou não. Porém, qual o tamanho do vazio?

Ricardo Oliveira

2 Replies to “Cabeças de rádio”

  1. as i told you… das alternativas a menos desconhecida. é, eles acertam no sentimento “pós-moderninho” (?) das letras. só sei que eu gosto, sou fã mesmo! ^^

    :*

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