Divulguei há pouco mais de uma semana a exposição “Romeiros de Corpo e Alma”, do amigo Ivan Correia. A verdade é que já visitei a exposição por duas vezes (na noite de lançamento e na terça passada, quando vi outras 3 exposições no Centro Histórico) e, claro, na revisão as perspectivas aumentam. O apuro estético de Ivan não está em grandes sacadas visuais, mas, muio mais na linha de trabalho de um Cartier-Bresson, que segue a idéia do momento certo. Esse momento é o ouro para Ivan Correia: seja o olhar de uma doce senhora que é devota do padre ou do detalhe de um dedo machucado segurando o chapéu-símbolo dos romeiros.
Fato é que as 40 fotografias parecem te inserir com facilidade naquele mundo religioso. É claro um destaque às figuras idosas e àquelas crianças que parecem ser um outra geração que já tem os seguido nas romarias. Todos eles usando o chapéu que tem uma função dupla: ao mesmo tempo que serve para protegerem-se do sol escaldante da região, é o símbolo que os lembra que o padre Cícero que eles adoram, era como eles.
A exposição me deixou especialmente curioso para saber mais de Ivan. Descobrir detalhes que me fariam compreender melhor o contexto de seu trabalho. Assim, fiz com ele entrevista via e-mail que ele gentilmente respondeu. Trago então essa matéria exclusiva aos leitores do DIVERSITÀ, bem como algumas fotos que ele enviou para que vocês sintam um pouco dos seus clicks.
1. Como surgiu essa necessidade de expor os trabalhos de ‘Romeiros de Corpo e Alma’?
Escolhi fotografar os romeiros pelo resgate cultural sócio-religioso. Minha intenção é registrar as expressões do povo nordestino, nesse caso, através da fé. Tenho planos de fotografar a feira de Caruaru, outra manifestação forte da cultura nordestina.
2. Depois de clicar e analisar mais de 2000 fotos, como você vê a relação daquelas pessoas (no geral idosas) com a figura do Padre Cícero?
É incrível. Você não imagina o quanto os romeiros conversam com a estátua de 25 metros, como se estivessem falando com uma pessoa. Eles tocam, ficam ajoelhados, abraçam, é uma coisa séria. A admiração deles olhando para as vestes que perteciam ao padre ou a cama onde ele faleceu ou o próprio túmulo comovem de uma maneira que até parece que ele morreu há meia hora atrás.
Eu conversei com muitas pessoas que diziam também: ‘Meu pai foi batizado por meu padim’ ou então ‘Minha mãe recebeu o conselho certo do meu padim pro casamento’ e por aí vai. A relação daquelas pessoas com a figura de Padre Cícero é de muita emoção.
3. Você é um fotógrafo cristão e que, através da exposição, toca num tema que reflete uma marca do povo brasileiro. Fale um pouco sobre esse processo de reflexão da religiosidade através da expressão fotográfica.
Minha primeira exposição fotográfica foi sobre as igrejas de João Pessoa. Muitas dessas construções são dignas de contemplação e passamos sem perceber, sem admirar. Quando escolhi fotografar esses romeiros, ainda dentro da religiosidade, me empenhei em buscar um trabalho, também, de reflexão: o quanto eles sofrem, buscando uma melhoria de vida, uma paz interior. Perceba que é uma antíntese, sofrer para melhorar. Mas sofrem. O Juazeiro é uma cidade extremamente quente, assim como o chão que é palco para as longas caminhadas e os joelhos rasgando naquelas estrutura tão simples, de barro. Vamos aproveitar o momento e ver quem de fato merece nossa fé. Essa exposição não trata de religião, e sim de expressão, entretanto vale a pena lembrar o nome do único que ressusitou, Jesus Cristo.
Romeiros de Corpo e Alma
Exposição de 40 trabalhos fotográficos de Ivan Correia
Igreja de São Francisco – Praça de São Francisco, S/N
Centro – João Pessoa – Paraíba
Fone: (83) 3218-4505
Ricardo Oliveira
entao – era sunshine mesmo. veja. eh sensacional.
sobre a exposicao, tenho meio que um ranço com a exploracao da figura do nordestino. nao dah pra explicar em duas linhas mesmo.
entendo completamente o ranço. ainda mais a gente morando aqui no nordeste. complica.
verei o filme. em breve.
aquele abraço
po, parabéns pela entrevista, de mais cara! Gostei! Um dia ainda serei um fotografo melhor que ele! rs
Te add na minha lista!
Parabéns pela entrevista e para Ivan, meu grande amigo e grande artista que me orgulho de conhecer!
A exposição está mesmo fantástica e, para mim, cumpre bem o seu papel de nos levar a refletir sobre quem de fato merece a nossa devoção.
Adorei! A exposição e a entrevista!