Juno tem uma irmã mais nova chamada Liberty Bell ou numa possível tradução para o português, Sino da Liberdade. Para uma garota de 16 anos isso é um bom sinal: ela deve aproveitar o bom tempo que o pai e sua madrasta darão mais atenção à irmã mais nova do que aos problemas que a nossa protagonista pode causar. Como Juno nos apresenta de início, tudo começa com uma cadeira – pois é exatamente aí onde acontece o tal problema. A garota escolhe o amigo nerd Paul para sua primeira experiência sexual – sem nenhum método anti-concepcional.
Ainda na primeira meia-hora de filme, Juno tem de contar aos seus pais que está grávida e neste instante há um diálogo que indica qual o verdadeiro tema do filme:
– Eu pensei que você era o tipo de garota que saberia se proteger… (when to say when, no original), diz o pai de Juno.
E ela rebate:
– Eu não sei que tipo de garota eu sou.
Enquanto alguns podem discutir se o filme é pró-aborto ou pró-vida, precisa ficar claro que o diretor parece ter interesse maior em pensar qual é a identidade de certa juventude americana. Juno “não sabe quem é” e por isso faz escolhas precipitadas. Tais escolhas parecem seguir um rumo: escolhe transar, escolhe fazer isso sem proteção, escolhe abortar e então vem o real ponto de partida para a jornada da protagonista: desiste do aborto e passa a procurar pais para adoção. É a partir deste instante que o processo de descoberta e amadurecimento de Juno inicia e aqui falamos do personagem como também do filme, pois antes disso, se ele nos prende é apenas com alguns dos clichês de filmes independentes americanos: teenager alternativa, cores fortes para um visual moderninho, abertura com animação e boa música indie de fundo.
Se nesse instante pensamos em Pequena Miss Sunshine, a lembrança nos serve apenas como ponte para comparações que valorizam Juno. A principal diferença é o fato de que aqui não se toma um posicionamento que parece ousado e na verdade é preconceituoso. Pelo contrário, o filme de Jason Reitman é sincero com seus personagens. Não os expõe ao ridículo para soar crítico quanto ao olhar preconceituoso do “resto do mundo”. Mesmo que algumas vezes esteja bem perto disso, ele não escorrega pois, na verdade, consegue trazer carisma para eles.
Tendo um posicionamento bastante otimista sobre aos pais (mesmo que seja porque conhecem a personalidade da filha, eles praticamente não ficam chocados com a notícia) esta também parece ser uma escolha para aumentar o foco na questão da descoberta individual de Juno por sua identidade. Mesmo assim, será através de uma conversa com o pai que a garota tomará uma de suas decisões mais importantes no filme.
Se ao final alguns questionarem que acabamos de assistir a filme um tanto conformado com o problema da gravidez precoce, talvez tenha faltado atenção ao que o diretor pretende enfatizar. Pois mesmo que pareça que ele assume certo posicionamento quanto aos problemas relacionados aos jovens “sexualmente ativos” (expressão de importância no enredo), o que na verdade pretende passar é que Juno precisava começar a crescer e “foi necessário” uma gravidez para que isso acontecesse.
Ricardo Oliveira
Bonzão o filme.
Olá Ricardo, obrigado pela visita e pelo seu comentário em meu blog. Creio que você teve uma visão diferente e válida sobre o filme. Eu particularmente, continuando crendo que o filme Juno não se trata do alto conhecimento, mas sim de consequências. Um forte abraço e vamos nos falando.
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