Quebra-Quilos ou o pretender-ser



QUEBRA-QUILOS

de Márcio Marciano

Sinopse do programa: “Estamos no sertão da Paraíba em fins de 1874. Em meio a rumores de uma sedição popular, os moradores de uma pequena vila preparam-se para a feira semanal que faz girar a economia da comunidade. Existem boatos de que os “quebra-quilos” preparam-se para invadir a cidade com o intuito de destruir os novos padrões de medição (o quilo, o metro e o litro) porque julgam essas aferições contrárias aos seus interesses de feirantes. Duas mulheres, tangidas do campo em direção à cidade serão as testemunhas da violência com que as autoridades locais tentarão conter os ânimos da matutada enfurecida.”

O problema da peça é o “pretender” ser. O seu texto parece ter a necessidade de provar ao espectador que a realidade do século XIX na Paraíba serve para compreendermos alguma coisa hoje. Mas afinal, o que há de errado nisso? Nada.

A questão aqui levantada é que, quando existe o excesso dessa pretensão, ela soará sem vida e não vai impactar. Se tal impacto parece vir numa medida (palavra um tanto maltratada, justamente com essa intenção) inteligente nas canções, no texto perde sua força. As falas então crescem justamente quando parecem não-querer-ser: as conversas entre Joaquina e Floreana, as falas da negra que se prostitui. No mais, o que vemos é uma série de diálogos pretendendo-se politizados e que pouco nos cativam ou emocionam – soam mais como uma aula de história encenada por bons atores.

O que nos fica de bom?

A direção solucionou de forma muito interessante a questão da sonorização e musicalidade do espetáculo. Os efeitos sonoros e canções sendo interpretados pelos próprios atores (seja quando estão em cena ou nos bastidores – que é visível a todos) foram muito bem cuidados e preparados. Logo, nos impactam com beleza como na cena do sonho-feliniano-circense da menina Floreana ou no roncar das barrigas famintas.

Quanto às atuações, Zezita Matos (que esteve brilhante no ótimo O Céu de Suely) e Sôia Lira juntas estão precisas na dinâmica dos diálogos – trazem a vida que o espetáculo precisa. Mas quero também ressaltar a firmeza com que Roberta Alves e Daniel Porpino interpretaram. Roberta, em especial, é responsável pelo “puxar” de algumas das canções e faz isso com segurança. Numa das melhores cenas estes dois estão juntos, e dão a força necessária para o impacto que precisamos ter nas questões que o texto levanta sobre a relação homem-mulher daquela época.

Por fim, o que falta é mexer conosco, nos impactar – não através da intensão de crítica histórica e política que possa alcançar, mas, pela firmeza com o humano pode ser afetado no contexto do século XIX ou XXI.

Ricardo Oliveira

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