Das convenções, regras e necessidades

por THIAGO BOMFIM

Religião é embaraçosa. Ninguém é bom o bastante para não se enrolar com religião. Nem mesmo o maior dos céticos ficou isento de, em alguma situação, confundir-se e aproximar-se dessas questões complicadas. Pior do que nutrir dúvidas escondidas em relação às suas crenças é expressar os pontos dos quais tem certeza.

Um dos autores mais políticos em relação à fé, nesse caso a cristã, foi C.S. Lewis. Não queria estar na pele dele nunca nessa vida. De ateu Lewis passou a cristão anglicano, diplomata de questões básicas da fé em Cristo. Nem mesmo esse grande gênio foi capaz de não se complicar nessa história.

Em um de seus livros mais famosos e recomendados do movimento emergente, Cristianismo Puro e Simples (Mere Christianity), o “criador” de Nárnia já começa pisando em ovos em uma das introduções mais políticas que eu já li. Poderia até reproduzir alguma coisa aqui, mas se ainda não perceberam, esse post é um convite à leitura do livro.

Basicamente, Lewis fala de sua neutralidade em algumas questões. Ele mesmo reconhece que parece estar em cima do muro. O mais estranho da cultura cristã, é que ela preserva uma cultura anti-dualidade que não lhe permite um meio termo. Não há um senso para se entender que, nem sempre elementos em lados opostos, necessariamente precisam estar em uma trincheira, atacando-se mutuamente. O meio termo existe, nem tudo em nosso âmbito de vida se resume a Deus versus Diabo.

O que nos complica em religião é que as convenções não se dão ao questionamento. “Não questionar é regra, e as regras não podem ser refutadas”.

Donald Miller em seus livros dá enormes voltas, para tocar o assunto espiritualidade e, quando o toca, rapidamente se afasta porque é inflamável. Aliás essa viagem, essa volta de 40 anos é o que torna seus best-sellers tão cativantes.

Cristianismo é sinônimo de ignorância e intolerância. Não culpo os olhares que nos julgam assim. Logicamente fomos os responsáveis por isso. Logo, falar de cristianismo é mostrar-se inculto, é bater em teclas agudas e irritantes.


Há alguma hora errada na história, onde distorcem tudo sobre o que Jesus realmente veio fazer por aqui. Não há Jesus preconceituoso, não há Jesus desumano. Cristo não é ignorância, é verdade que liberta. Bíblia não é ciência, é história. Regras são convenções, amor é necessidade.

Derek Webb diz em uma música que ele largaria a Bíblia se ela não fizesse o bem. Se eu criar teses baseadas nas escrituras para declarar guerras, incentivar alienação, extorquir dinheiro, há sentido em usá-las?

É impossível não se complicar com o cristianismo. Apesar de ser puro e simples, nossas convenções tornaram difícil expressá-lo e discutir sobre ele. Se perceberem, cá estou eu em devaneios que podem ser facilmente confrontados por “entendedores” de teologia, ou seja, me embaraçando com a fé.

Quando o Ricardo me chamou para escrever nesse blog ele me perguntou se queria falar de música ou fazer algumas reflexões sobre fé. Respondi: fico com a crise existencial.

Uma boa semana a todos!

Thiago Bomfim é um mineiro estudante de letras na Faculdade São Judas Tadeu que mora em São Paulo e vive com um iPod tocando Jars of Clay. Adora uma música caipira e se pudesse, voltava pro interior pra passar a vida lendo seus livros.

2 Replies to “Das convenções, regras e necessidades”

  1. Thiago,
    Muito interessante seus devaneios neste post.

    A que “meio termo” vc se refere? e em quais áreas da vida, por exemplo, eles existiriam?
    Vamos papear?

    Abraços,

  2. Mais uma prova de como posso me complicar com religião.
    Esse “meio termo” pode ter dezenas de interpretações…
    Estevam, em minha vida o tal “meio termo”, é evidente na minha espiritualidade.
    Permito-me questionar as convenções a ponto de perguntar-me sobre bases da minha própria fé. Costumo justificar-me com a seguinte linha de pensamento:
    se a fé nunca passou por questionamentos nem por dúvidas, ela é mediocre porque não suportou adversidades que a permitiria estar enraizada em algo.
    Só para não escapar da pergunta: essas “minhas” dualidades encontram-se todas no campo que compreendem todas as linhas de pensamento cristão que razoavelmente pareçam sérias. Por exemplo sou completamente dualista no sentido da extinção das imagens com representações dos supostos santos: para mim são prejudiciais no sentido da adoração a objetos, mas algumas tratam-se de belíssimos exemplares de arte.
    Aí está: parece que estou em cima do muro, mas não estou! Apenas permito meu pensamento ir além dos imaginários limites, impostos pelo “grupo cristão” que optei participar, os protestantes.

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