O SONHO DE CASSANDRA (Cassandra’s Dream)
de Woody Allen – 2008
Woody Allen já não é o mesmo no seu cinema desde que começou a investir em produções dentro da Europa. Isso é confirmado de maneira bastante clara em O Sonho de Cassandra. É com este filme que ele evidencia de forma mais plena (e com desempenho infinitamente superior a Match Point) seu interesse em narrar e interpretar o Reino Unido.
Mas, ele ainda está lá? Está.
Durante o filme é possível perceber pequenos toques nas falas, nos trejeitos de alguns personagens, que nos remetem ao estilo que mais nos lembra Woody Allen. São diálogos mínimos que mostram tiradas de humor desconcertante, além da clássica figura frenética, esta porém, repensada e reformulada. Tudo é sutil, pois a direção segue um caminho diferente das comédias-intelectuais que debatiam os costumes (na maioria das vezes) da burguesa americana. Aqui se tem interesse em pensar situações-limite, especialmente ligadas ao material, ao financeiro, através de um tratamento bastante simples (longe de ser simplista) em diferentes classes londrinas.
Se Allen nos detalha pouco a pouco o cotidiano dos irmãos Ian e Terry é para que, tudo que foi construído no cinematográfico, esteja a ponto de desabar (como em nossas vidas, sempre). É justamente para também não mostrar aquilo que pretende revelar somente depois – a questão moral. Eis aquilo que sempre permeou muitos dos filmes de Allen.
Perceba que está justamente aí o brilhantismo da trama: nos revelar que Ian e Terry relativizam seus valores, sua ética, até que surja a necessidade de ter de ultrapassar os limites. Mas quando houve limites? Falamos de um Ian que fingiu em todo o tempo ser outra pessoa para conquistar mulheres. Usava os grandes carros que seu irmão Terry, um mecânico, consertava na oficina onde trabalhava. Este último, tomado por um vício em jogos que o fazia perder e ganhar fortunas em poucos instantes – e buscar apostar mais, para se recuperar ou por pura ambição. Quando são “intimados” a cometer um crime para que suas dívidas possam ser quitadas através do tio Howard, questionam os valores. Não é à toa que Howard olha para Terry e pergunta como ele ousa questionar sua ética.
A tragédia de Allen é sobre culpa e esvaziamento moral. É sobre estes tempos – e as conexões entre os temas não são impostas, mas lançadas para que o espectador as faça. Apesar disso, o simples fato de escolher questionar qual é (ou era) essa moral e de onde poderia vir tal culpa, demonstra que seu interesse temático, continua sim, o mesmo: Allen continua perguntando onde Deus está.
Ricardo Oliveira
Eu gostei do filme muito mais pela oportunidade de fugir um pouco dos blockbuster’s, mas tenho a impressão que me esquecerei dele tão logo assista outros. Não me emocionou, nem surpreendeu. É uma pena…
Valeu Ricardo!