Filmografia Comentada [1] – M. Night Shyamalan


Para este pobre moço que escreve aqui, entre diretores contemporâneos, os três preferidos são Gus Van Sant, Quentin Tarantino e M. Night Shyamalan. Existem nomes clássicos que ainda estão produzindo e fazem parte de uma outra época. Eles também entram em listas maiores de preferidos. Mas nenhum cria em mim atenção maior do que esses três. Nenhum outro instiga mais reflexões sobre cinema e a vida – ou a vida de cinema, ou o cinema da vida.

Inicio hoje, nesta semana de lançamento do filme mais recente de Shyamalan, o mal falado Fim dos Tempos, uma série que vou levar devagarzinho: Filmografia Comentada. Pretendo falar de todos os filmes que eu conseguir (re) ver dos meus diretores preferidos. Vou tentar evitar criar regras e promessas temporais – fato é que a coisa vai rolar. Hoje vocês ficam com o Mr. Shy. Uma observação é importante: vou comentar aqui somente seus filmes lançados no cinema, pois os outros, além de esquecidos pelas distribuidoras brasileiras em termos de vídeo/dvd, nunca foram lançados na telona. São dois: Wide Awake e Praying With Anger. Segundo algumas leituras na internet, esses filmes ainda assim podem ser úteis para quem desejar fazer estudos sobre a questão da fé/crença no cinema do Shyamalan. De todos os 06 comentados aqui, apenas A Dama na Água e Fim dos Tempos eu não consegui rever.

O SEXTO SENTIDO (1999)

O filme que fez dele conhecido em todo o mundo. Os críticos idiotas se perguntavam se ele era o novo Alfred Hitchcok e muita gente caiu nesse questionamento. Outros ainda entraram no burburinho do “filme espírita” quando esse também não era o foco. A verdade é que depois de assistir seus outros filmes, fica comprovado já em O Sexto Sentido que Shyamalan utiliza uma trama que trabalha o fantástico, o metafísico, para revelar os nossos medos da dimensão material. A reviravolta mais famosa dos anos 90 não é apenas um truque legal de roteiro. Mas uma quebra, um novo olhar descoberto pelo Dr. Malcolm Crowe do início até o fim do filme.

Melhor Cena: – I see dead people.

UNBREAKABLE (2000)

Eu me recuso a utilizar o título em português. Corpo Fechado denuncia que os marketeiros sempre maltrataram os filmes de Shyamalan, pois de “corpo fechado” não há nada no filme. A idéia é justamente a dialética clássica de bem contra o mal nas histórias de super-heróis. Neste caso, um homem que não se machuca nunca lidando com outro que se machuca por qualquer coisa. Obsessão, autodescoberta e questionamento do que o “possível” num filme onde Shyamalan mostrou sua destreza como diretor em cada plano.

Melhor Cena: David Dunn (Bruce Willis) no trem, e a câmera captando tudo pelos espaços entre as poltronas.

SINAIS (2002)

O Shyamalan mais “divertido” de se ver. O tema mais presente em sua filmografia é tratado praticamente em todo o filme: a necessidade de se crer. Um ex-pastor, que desistiu da fé após a morte da sua esposa em um acidente fatal, vê-se diante da possibilidade do mundo acabar: alieníginas estão tomando o planeta. Ao invés de seguir o lugar-comum-megalomaníaco do cinema, MNS decide pensar a situação inteira somente através de uma família que vive em uma pequena cidade do interior. Os sentimentos, as crenças (ou a falta delas) estão todas lá e fazem da história algo totalmente universal.

Melhor Cena: Graham Hess (Mel Gibson) na plantação procurando pelos “arruaceiros”.

A VILA (2004)

Sua obra-prima; o mais fadado a críticas injustas. Culpa de quem? Mais uma vez dos publicitários malditos. É um dos meus 05 filmes preferidos e toda a sua genialidade está lá. Shyamalan resolve colocar sua famosa “reviravolta” num lugar inesperado e inverte aquilo que todos esperavam. Quando imaginavam ser “mais um filme daquele diretor dos finais surpreendentes” (o que não deixa de ter) caíram na armadilha de um gênio que quer contar histórias sobre amor, medos e crenças. Destaque para a belíssima fotografia, casando com a construção de símbolos das cores através do imaginário daqueles personagens.

Melhor Cena: Bryce Dallas Howard e Joaquin Phoenix na varanda, conversando sobre quem chama quem para dançar.

A DAMA NA ÁGUA (2006)

A quebra total com os interesses do mainstream. O diretor rompeu com a Disney, que iria financiar o projeto, e resolveu fazer uma fábula à sua moda. Requinte no tratamento da câmera, na direção dos atores e seus interesses temáticos todos lá. Lembro que foi uma experiência estranha ver o filme. É um Shyamalan diferente em diversos aspectos, mas, ao mesmo tempo, o mesmo. Quando a misteriosa Story surge das águas de uma piscina para fazer uma pequena comunidade rever seus valores, pouca gente entendeu que era um diretor questionando a capacidade do cinema atual de simplesmente contar histórias – e de espectadores terem prazer em assistí-las.

Melhor Cena: o encontro do zelador Cleveland Heep (Paul Giamatti) com a narf interpretada com Bryce Dallas Howard.

FIM DOS TEMPOS (2008)

A grande brincadeira-séria do Mr. Shy. Brincadeira porque se joga na estética B – reinterpretando e reformulando para um c
inema de hoje e com seu estilo. Sério porque além de continuar lançando seus interesses autorais, trata de um tema bastante atual: preservação do meio ambiente. Homenagem explícita a Os Pássaros de Alfred Hitchcok, até mesmo colocando personagens diferentes, mas com a mesma função na trama.

Melhor Cena: corpos dos pedreiros caindo do prédio.

Ricardo Oliveira

14 Replies to “Filmografia Comentada [1] – M. Night Shyamalan”

  1. Então, dei muito valor a sua crítica de The Happening. Concordo e assino em baixo, apesar de achar que Shyamalan sabe dar suas alfinetadas com seus filmes, e não fica apenas no: Uma boa história pra se contar. Mas até nos recados dados ele é brilhante.
    Quanto a filmografia dele, você esqueceu de comentar O Pequeno Stuart Little ( :P Eu sei que ele fez só o roteiro, mas não custa nada dar o crédito ao cara ). E quanto ao nome de Corpo Fechado, discordo de você, e acho muito legal. Porque na Umbanda, quem tem corpo fechado é justamente quem consegue através de ritos e sabe-se-deus-lá-o-que-mais ficar sem se machucar e sem doenças. Eu inclusive acho esse nome genial porque os caras adapataram perfeitamento o contexto do protagonista à cultura brasileira, afinal, esse filme não pode ter esse nome em nenhum outro país, mas aqui, ele faz todo o sentido, e quer dizer a mesma coisa do original, UNBREAKABLE. ;)

  2. Grande Mateus! Olha ae, estamos começando a concordar com mais frequencia. Lá no seu blog, concordo que Everwood e Grey’s Anatomy não são boas séries.

    Eu não acho que essa tradução abrasileirada seja uma boa não. Até pq o filme não sugere que os poderes de Bruce Willis venham de algum tipo de ligação com coisas místicas, mas apenas superpoderes de um super-herói. E não quer dizer a mesma coisa que original. A tradução seria “Inquebrável” =P

    E sobre a filmografia, me detive em falar somente dos projetos em que ele escreve e dirige, ou seja, seus projetos autorais.

    =]

    abraço’s

  3. faz bem com essa série.
    shy é muito responsa. diretor do caralho.

    se tiver com a filmografia completa de gus van sant me dah o tok. me interesso em rê-velos todos tb.

    arthur

  4. Cara, ainda não. E fui ver agora, é bem mais do que eu achava que era. Acho que inclui alguns curtas, talvez. Mas em negrito as coisas que já vi:

    Paranoid Park (2006)
    Paris, je t’aime (2005) (segmento “Le Marais”)
    Last Days (2005)
    Elephant (2003)
    Gerry (2002)
    Finding Forrester (2000)
    Psycho (1998) – um remake
    Ballad of the Skeletons (1997)
    Good Will Hunting (1997)
    Four Boys in a Volvo (1996)
    To Die For (1995)
    Even Cowgirls Get the Blues(1993)
    “Under The Bridge” (1992) – vídeo musical dos Red Hot Chili Peppers
    My Own Private Idaho (1991)
    Thanksgiving Prayer (1991)
    “Fame ’90” (1990) – video musical de David Bowie
    Drugstore Cowboy (1989)
    Ken Death Gets Out of Jail (1987)
    My New Friend (1987)
    Five Ways to Kill Yourself (1987)
    Mala Noche (1985)

    Quero ver a maioria pelo menos…

  5. Psicose do Gus foi esculachado, mas revendo essa”Xerox colorida de um clássico”, percebo como é autoral esta versão.

    Quanto ao Mr. Shy. Adorei suas críticas (sintetizadas) de sua filmografia. Acho tbm ele genial.

    Você sabe alguma coisa do novo filme dele, The Last Airbender?

  6. Desculpa aí, cara, mas…- The Happennig é uma Sessão da Tarde cheia de clichês, entremeada por meia dúzia de cenas bem filmadas(os suicídios), com uma cena final típica de terror pipocão dos anos 80. – Sinais é um filme "b" de alienígenas verdes pelados canibais de HQ infantil, com direito a "ponto fraco crucial" e com uma das premonições mais ridículas da história ("rebata!" – constrangedor!).- O Sexto Sentido e Unbreakable são filmes fantásticos. Quanto aos outros dois, vou esperar passar na TV, não arrisco mais grana com esse Shyamalan até ele fazer um filme bom de novo.

  7. Definitivamente não posso concordar com qualquer crítica positiva a Fim dos tempos, mas de resto… A vila é um dos melhores filmes que já vi e sai do cinema após assistir a A dama na água me sentindo novamente uma criança que acabou de ver uma animação da Disney contagiada pela mensagem edificante e acreditando que o bem, de fato, vence o mal. A ansiedade por The last airbender já se faz presente.

  8. VALEU PELO CONTEUDO DO SHYAMALAN E PELA VISAO UNICA A RESPEITO DE SEUS FILMES . E U CARA DE BOM GOSTO QUE SABE RECONHECER O TALENTO DE DIRETORES MENOS CLICHES . OTIMO TRABALHO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  9. É engraçado como seu "carinho" pelo diretor M. Night Shyamalan deixa sua "crítica" fadada e sem muito afinco com a estética e com o sentido de uma análise de um filme. Os filmes desse diretor são bons, mas não são assim tão repletos de genialidade. "A Dama Na Água" de 2006, por exemplo, é um filme desigual sim, porém o diretor erra a mão… "Fim Dos Tempos" de 2008 há um exagero "estético" do diretor. Esse roteiro, que poderia ter dado um belíssimo filme, causa um desconforto e um mau estar tremendo. Mas o que esse "blog" faz e o deixa muito pobre fica na frase: "Os críticos idiotas se perguntavam se ele era o novo Alfred Hitchcok e muita gente caiu nesse questionamento." O mais interessante é que você se porta como "crítico" mesmo saudando a "idiotice" deles… É cômico, hilário até… Você precisa estudar mais cinema e deixar de lado esse "romantismo" barato para com um diretor para poder fazer uma análise séria.

    1. Não devo satisfação a você sobre o quanto estudei cinema para escrever…se lhe incomodou, fique à vontade para discordar, ler outros textos para confirmar sua tese ou não voltar mais – seu desprezo certamente não me fará falta. Talvez a única resposta que lhe deva seja relembrar que isso aqui é um blog pessoal e o tom que darei aos posts, apaixonados ou não, é problema meu.

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