Desde que conheci o som de José James através de André Cananéa não consegui parar de ouvir. Meu Last.fm acusa que nos últimos 07 dias ele só perdeu para Palavrantiga. Estou na lista de principais ouvintes do cara em sua página por lá. Foi, de fato, uma questão de ser surpreendido pelo som. Quando notei que o rapaz fazia um jazz com puxadas leves para coisas como hip-hop e drum’n’bass, pirei.
Não sei se chega a se enquadrar nesse som que alguns tem chamado de nujazz – que particulamente não tenho muito saco pra ouvir o que já pude conhecer. A questão é que ele não ficou perdido na nostalgia nem se encantou demais pelo contemporâneo: faz a música do seu jeito.
É um jazz cru mesmo, com um trio prá lá de bem ensaiado que lhe acompanha. Baixo acústico, piano (algumas vezes um delicioso órgão vintage) e uma bateria. Somados à voz rouca do James, formatam a velha simplicidade complexa do jazz: tanto para você ouvir sem preocupação enquanto caminha por aí, como para os músicos mais apurados descobrirem novas linhas inventivas, que jogam o jazz dentro de um liquidificador de velocidade lenta, para não machucar nada.
Se veste e se mexe cantando como um MC porque é de Minneapolis mas hoje vive no Brooklin-NY mesmo. Sabe o que fazer com sua voz como poucos. Não exagera nos tiques de quem tem um bom timbre e sabe soltar volume quando é necessário. Se calhar, manda um beachbox e mostra que isso também tem a ver com jazz. Por que não teria? Em seguida improvisa como se tivesse um Wynton Marsalis dentro da boca, para colocar todo mundo pra cima – da mesma forma que um MC faria lançando rimas improvisadas. Não brinca em serviço.
Por fim, falamos de alguém que se propõe a pensar e refletir o mundo de agora. Se no vídeo de “Park Bench People” (assista abaixo) nós vemos um claro interesse em mostrar os problemas que lhe cercam, na faixa título do cd, “The Dreamer”, ouvimos uma espécie de hopeful jazz, que nos remete diretamente a Martin Luther King:
I saw the dreamer raise his hand
Into a world of possibilities
(Eu vi o sonhador erguer sua mão
Em um mundo de possibilidades)
I saw the dreamer raise his hand
Into a sky of light and love
(Eu vi o sonhador erguer sua mão
Em um céu de luz e amor)
E assim segue este sonhador, com um dos melhores álbuns dos últimos tempos. Que venham, pois, mais músicas, sonhos e sonhadores. A gente agradece.
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EXTRAS:
1. Videoclipe – Park Bench People
2. Entrevista com José James via OnPoint
3. Show completo no “Paradiso – Small Hall” via FabChannel
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José James
“The Dreamer”
Gravadora: Brownswood Records
RICARDO OLIVEIRA
Opa, catequisei mais um! Abraços Ricardo, e parabéns pelo texto.
Hehehe, muchas gracias, André!
Bá, desde que descobri o som desse cara aqui, não canso de escutar o disco. Fui no LastFm ver nas recomendações se não encontrava um som nesse estilo, mas não encontrei ainda nada que me agradasse mais do que JJ.