“Sete Vidas”, de Gabriele Muccino

“Sete Vidas” não é um desastre por bem pouco. O que o segura de não sê-lo? Will Smith e seu carisma; e um certo cuidado que o diretor Gabriele Muccino tem em trabalhar seus planos, sua capacidade de transformar o personagem de Smith em uma pedra de gelo interessada em descongelar. O texto não é exatamente ruim, trabalhando o interdito, dando poucas pistas para o expectador. Entretanto, é nesse “não dar pistas” e “embaralhar propositalmente” que o filme começa a tropeçar.

A montagem é propositalmente confusa à princípio e não nos entrega de maneira óbvia quem Smith é ou o que realmente pretende. Entretanto, não o faz com a sutileza de mistério que encontramos nos personagens de David Fincher ou Clint Eastwood (para ser mais cruel…). Estes diretores mostram que há cicatrizes em suas histórias e, com destreza, revelam pouco a pouco como surgiram (lembrar do treinador de “Menina de Ouro”, por exemplo).

.

.

Em “Sete Vidas” há sim um certo mal gosto no modo de filmar essas abordagens iniciais do personagem de Smith: quase todas passam a sensação (que não deveria existir, pois faz do filme algo frágil) de que há alguém querendo “fazer o bem”. Tal sentimento começa a surgir de forma mais interessante no protagonista a partir da segunda parte – e é nesta etapa que nos deparamos com a pedra de gelo citada acima. Smith passa a mostrar que é bom ator quando o diretor o faz não usar mais dos sorrisinhos previsíveis e da carinha amável.

Will Smith parece claramente interessado em ser filmado como protagonista de histórias de redenção – e não há problema algum nisso. Porém, covenhamos: se encontramos aqui belas cenas com referências interessantes ao principal sacrifício biblíco, o que mata estes takes (como a sequência da banheira) é aquela irritante trilha sonora épica que estica a corda até fazer você chorar. Não chorei – talvez o silêncio me comovesse mais. É de mais silêncios que “Sete Vidas” precisava.

.

.

Ricardo Oliveira

3 Replies to ““Sete Vidas”, de Gabriele Muccino”

  1. isso! o filme tropeça muito nisso de não dar dicas.. eu achei um filme interessante, um drama muito forte, que tinha tudo pra ser bom. É incrível a ausência de sentimentos bem expressados no personagem de Will Smith! Mas ele que salva bem o filme, excelente ator com excelentes trabalhos! :)

  2. Acredito que Sete Vidas é muito mais que um “filme para arrancar lágrimas” como andam dizendo por aí.
    E na minha opinião, a questão de “não dar dicas” é o que torna a história mais interessante já que não entrega tudo de bandeja como em À Procura da Felicidade. Penso que o filme não é para fazer chorar, mas para mostrar que talvez não seja possível reparar o passado, porém, nunca será impossível fazer um futuro diferente ou tarde demais para tornar a vida de alguém melhor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *