Os irmãos Cohen sempre trabalharam a partir de esteriótipos, da ironia, da maldade humana. Em Queime Depois de Ler há tudo isto elevado a uma potência quase máxima e especialmente incômoda. Penso que na questão da maldade, trabalha em outro nível se lembrarmos da representação do vilão de Onde os Fracos Não Têm vez . O nível de loucura deflagrada pela escolha do trato caricatural incomoda. Deixa-nos realmente inquietos na poltrona por um longo período, já que as risadas vêm por um tragicômico que não está ligado ao factual, mas ao campo das idéias. Explico: em Queime Depois de Ler, a força do hilário não está necessariamente nos trejeitos de um Brad Pitt – mesmo que seja bastante engraçada a cena do carro, por exemplo. O poder ambíguo do cômico no filme está justamente no fato de que o personagem de Pitt representa um esteriótipo comum, real e mesmo que tenha exageros nos permite rir e, ao mesmo tempo, se amargurar por entender as implicações de sua simples existência.
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A representação clássica do micro pelo macro foi o caminho escolhido e nos deparamos, como nos lembra Tatiana Monassa que “tudo já fugiu do controle e o ideal americano afirma-se, enfim, como uma ilusão completa”. Ora, a ilusão é completa não somente para esta microrepresentação dos Cohen, mas para o todo, já que temos uma imagem durante os créditos que revela o interesse metafórico dos diretores em exibir a América. Por estes caminhos, Queime Depois de Ler é um filme extremamente desagradável – neste sentido, está aí uma das razões que faz dele uma ótima obra. Portanto, deixem este filme guardado depois de assistir – para que veja outras tantas vezes. Ele revela uma condição do presente e, possivelmente, o futuro.
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Ricardo Oliveira
Assistido no Box Cinemas.
Eu vi o filme antes de sair nos cinemas porque não agüentava mais esperar pela próxima obra dos irmãos Cohen que eu amo de paixão. E pra minha surpresa me deparei com um filme não tão espetacular quando “Onde os Fracos não têm vez”, mas que não deixa de ter sua genialidade. Como você mesmo diz, eles adoram explorar a maldade e a ironia humana e eles fazem isso com tanta maestria, que mesmo que você vá assistir “Queime depois de ler” esperando rir muito e isso não acontecer, você vai adorar o filme.
Palmas pra esses dois, eles merecem!