“O Leitor” tenta, mas não emociona

Quem conhece alemães e convive ao menos um pouco com eles sabe que não é agradável, durante um papo descontraído, tocar em sua história pré-queda do muro de Berlim. Falamos da época em que algumas condutas totalitaristas pós-nazismo ainda estavam presentes na Guerra Fria, como retratado em filmes como A Vida dos Outros (2006), de Florian Henckel. Chega a ser totalmente insensato então relembrar com eles o que o país viveu debaixo do regime nazista. Há feridas que permanecem abertas e que, invariavelmente, passaram através das gerações daquele povo. No cinema, sempre foi mostrado o lado dos judeus como únicas vítimas desta história e pouco (ou nunca) se tentou revelar o coração dos alemães sobre o assunto. Eis a tentativa do diretor Stephen Daldry através de O Leitor: alcançar a perspectiva alemã do assunto.

O porém é que a adaptação do bestseller homônimo é fria e sem emoção. Mesmo começando bem, contando a história da paixão do adolescente Michael Berg pela misteriosa mulher interpretada por Kate Winslet, Hanna Schimitz, o filme não engrena. Há neste começo algo próximo do frescor visual de Billy Eliot, o primeiro filme do diretor Stephen Daldry, entretanto, logo torna-se frágil e de pouco significado. O diretor não dá tempo suficiente às imagens para que elas respirem e se ressignifiquem na mente do espectador. A direção não nos dá espaço para pensar, entregando quase todos os sentimentos praticamente prontos através de diálogos óbvios.  Com um segundo ato que quase desanda totalmente, o caminho torna-se seco e sem a força esperada.

O papel de Kate Winslet é prontinho para um Oscar, mas pouco inspirado e bastante próximo do clichê nos olhares e trejeitos. Sua personagem, Hanna, é cativada pelos livros que gosta de conhecer, mas O Leitor apenas tenta nos emocionar – e não consegue.

publicado originalmente no Jornal da Paraíba em 12/02/09

Ricardo Oliveira

2 Replies to ““O Leitor” tenta, mas não emociona”

  1. Acho que concordo contigo Ricardo. Não deu pra mensurar muito o quanto você (não) gostou do filme… mas eu gostei muito. Porém, eu achei que o filme se perdeu justamente nesta tentativa de emocionar, flertando com o melodrama. Pra mim o melhor questionamento que o filme traz é o sentimento de culpa do Michael Berg e da Hanna Schimitz (que vêem a ser de grande parte das famílias alemãs), que como você bem colocou, ainda é uma ferida aberta. Talvez por não confiar totalmente neste enredo é que o filme busque emocionar, e se perca. E quanto aos olhares e trejeitos de Kate Winslet: eu gostei de todos =D

    Abração!!!!

  2. Acho que algumas características de Daldry no filme são perdoáveis. Apesar dos “sentimentos praticamente prontos através de diálogos óbvios”, é dele a perfeita condução de Kate Winslet. Talvez não seja sua melhor atuação até agora, mas o Oscar não tinha como fugir de suas mãos.

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