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O filme que possivelmente ganhará o Oscar nesta noite é uma espécie de desespero da parte de Danny Boyle. O diretor parece desesperadamente interessado em construir uma imagem da Índia que revela sua condição decadente e, ao mesmo tempo, mostrar que sua esperança está no destino. Mesmo que seja interessante questionar esse argumento (já que a mesma Índia é aquela que continua fazendo destinções de castas entre as pessoas), não é onde quero focar.
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Este desespero, ao mesmo tempo, acaba por revelar um constraste entre a possível intenção e como se quer chegar nela em termos cinematográficos. Boyle estilza os planos, rebusca a fotografia e exagera na história, a ponto de transformar Quem Quer Se um Milionário? em um espetáculo vazio. As tentativas de executar um boa técnica (como aquela encontrada em Sunshine – Alerta Solar) acabam por fazer do filme (e aqui encontramos pontes com o cinema brasileiro) uma espetacularização das favelas indianas. A mesma câmera que insiste em ser inclinada, tentando revelar uma Índia que está “virada”, acaba por não convencer por ser a mesma que mostra exageros de contra-luz e cores que visam apenas impressionar – e não significar.
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Para Boyle, então, a beleza do povo indiano está no destino de Jamal, que insiste em levá-lo para os melhores lugares, mesmo que passando por muitas dificuldades. Como se não bastasse toda a fragilidade da significação das imagens de Boyle, ele ainda fracassa ao fazer com que os desastres da vida de Jamal sirvam, perfeitamente, para o seu destino traçado: estar acima de tudo aquilo que viveu (foto acima), mesmo que alcance isto com a ajuda das situações vividas – as respostas perfeitas para um quiz de TV. O vitorioso menino é apenas um boneco nas mãos do comandante Danny Boyle e seu maniqueísmo também tenta nos pegar – mas, não.
Ricardo Oliveira