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A cena inicial de Segurando as Pontas (Pineapple Express, 2008, Sony Pictures) parece ser uma preparação para tudo aquilo que o filme é. Imagem em preto e branco, exército americano de algumas décadas atrás. No subsolo de um lugar deserto, a força armada realiza testes do “item nove” com um soldado. O público sabe: estamos vendo um cara chapado por fumar maconha. O ambiente e os personagens, estereotipados, descobrem os efeitos da droga no militar. A cena tem ritmo que mesmo não gerando gargalhadas, é bastante hilária. Ao fim destes poucos minutos iniciais, o comandante da situação vai ao telefone e afirma: “Já tenho uma conclusão sobre o ‘item nove’. Ilegal!”.
Corta para o ator Seth Rogen, nos dias de hoje, imagem colorida. Totalmente alucinado, fala ao celular. A fala? “A maconha deveria ser liberada. Hoje mesmo!”. Somado ao trecho anterior, temos o indicativo de que estamos no cinema de outros tempos. Justamente aquele celebrado recentemente por Robert Rodriguez e Quentin Tarantino no projeto ‘Grindhouse’. Especialmente em Planeta Terror, encontramos o resumo daquilo que Segurando as Pontas também é: aparentemente despretensioso, trata-se de uma hilária paródia política, repleta de crítica social.
Os dois protagonistas, Dale Denton (Rogen) e Saul Silver (James Franco, em atuação incrível) são dois viciados em maconha, que sem querer, se envolvem numa perseguição criminal. Temos um filme dividido em duas etapas: a primeira fase no estilo “comédia leve”, com grandes tiradas textuais e poucas catarses cômicas, assinadas pelo incansável Judd Apatow; e a segunda fase “gore escrachada”, com cenas que esbajam ousadia ao brincar com o cinema de ação americano. Ao fim, garantia de grande cinema e boas risadas.
Ricardo Oliveira
Publicado originalmente na coluna JP Crítica do Jornal da Paraíba em 11/03/09.