Dois Perdidos Em um Palco Sujo – JP Crítica

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Há em Dois Perdidos Numa Noite Suja uma certa incapacidade de ser algo efetivamente bom – teatro mesmo, digamos assim. Temos, claro, o ótimo texto de Plínio Marcos, que permite aos atores André Gonçalves e Freddy Ribeiro terem um ritmo que ao menos traz interesse do espectador. Porém, os diálogos ficam trincados por algumas vezes, já que a direção de Silvio Guindane, junto a dupla, não teve ao menos o cuidado de atualizar e contextualizar para hoje o cotidiano de Paco e Tonho. O enredo original tem marcações temporais que, se não são modificadas para o contexto de hoje, ficam apagadas, sem impacto – e é exatamente isso que acontece.

É óbvio que falamos de uma situação atemporal: a história de dois companheiros de quarto, que trabalham em um mercado e vivem em condição miserável. Paco (André Gonçalves) e Tonho (Freddy Ribeiro) estão em conflito constante, pelo fato de Tonho acreditar que precisa de um par de sapatos novos para conseguir emprego; Paco acabou de ganhar um novo par. O espetáculo busca focar e ter força através destas conversas e conflitos entre eles dois, mas com um Freddy tão apagado, gaguejando nas falas e caindo acidentalmente do palco na cena final, a fragilidade impera. Diante disso, não resta dúvidas de que André Gonçalves se destaca em qualidade. Se às vezes exagera, passando do ponto nos trejeitos vocais, mantêm-se firme na caracterização do personagem canastrão.

Neste caminho não há, portanto, possibilidades simbólicas de interpretação para além do texto, ou seja: a ideia é alcançar um ponto alto no espetáculo através das atuações e do que é dito. Porém, como temos apenas uma dupla no palco e uma das partes parece não estar lá, ficamos ao léu.

Ricardo Oliveira

Publicado originalmente no Jornal da Paraíba no dia 24/03/09.


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