Apesar de ser uma comédia, o novo filme de Kevin Smith é obviamente interessado em ensaiar pensamentos sérios sobre a sexualidade, o cinema e as relações da juventude com a mídia na sociedade americana. As inúmeras referências à cultura pop estão lá, mas Pagando Bem, Que Mal Tem? (Zack and Miri Make a Porno, 2008) é bem mais que isso.
Zack (Seth Rogen) e Miri (Elizabeth Banks) vivem juntos, mas nunca tiveram um relacionamento amoroso. Eles têm intimidade e respeito mútuo como irmãos. Os dois são falidos no financeiro e nas tentativas de conseguir algo além de amizades; estão prestes a perder o apartamento que já tem luz e água cortadas e na festa de reencontro dos amigos da escola são pouco populares. Descobrindo o filão da “pornografia independente”, jutam A+B e acreditam que produzindo um vídeo pornô, eles poderão pagar as dívidas. É com esta empreitada que a produção recebe ainda mais possibilidades ampliadas no ritmo de analisar jovens adultos americanos e sua sexualidade.
Em certo trecho do filme, Smith consegue explicar com sutileza quase tudo que significa um adulto viver sua adolescência de modo atrasado. Delaney, amigo de Zack e produtor da empreitada, está fazendo o primeiro “teste de peitos” para o filme. Há em sua frente uma moça vestida e ele explica, nervoso como um garoto, que tudo aquilo é profissional. Atrás dele temos um poster que revela algo mais amplo: dois meninos, quase bebês, olham para dentro de suas fraldas e descobrem que tem alguma coisa ali dentro. Delaney, naquele instante, não passa de um adolescente se descobrindo.
Obra estabelecida principalmente na força da palavra, erra apenas quando tenta explorar algum humor no corpo, às vezes um tanto escatológico. Desnecessário, já que chega a ótimos pontos sem precisar disso.
Ricardo Oliveira
Publicado originalmente no JP Crítica, do Jornal da Paraíba no dia 01 de abril de 2009.