A Casa dos Mortos (Débora Diniz, 2009) – 4º Cineport

A CASA DOS MORTOS (Débora Diniz, 2009) *****

Uma das tendências mais comuns no trabalho investigativo de assuntos específicos é o desespero por descobrir as causas. Se o problema é a violência contra a mulher, como em Coragem, Mulher, exibido ontem, há um interesse constante em se descobrir qual a razão deste problema. Não há, sobretudo a partir do ponto de vista jornalístico, um problema nisso. Entretanto, aí está também um complicador: o documentário cinematográfico não é, de maneira nenhuma, apenas jornalismo. Ele deve ser, acima disso, uma construção artística, logo, baseada na subjetividade do olhar. A beleza dos grandes trabalhos deste gênero está justamente na transcendência ao excesso de objetividade, de linguagem referencial. Eis o que é A Casa dos Mortos, da antropóloga Débora Diniz.

Revelar sua profissão já indica algo curioso. Débora não é cineasta. Ela tornou-se a partir deste trabalho. Ela é doutora em antropologia, mas isto tem bastante a ver com o processo que ela escolheu para captação de suas imagens e desenvolvimento do seus trabalho. Ora, A Casa dos Mortos trabalha com a ideia do olhar livre de amarras que delimitariam o dispositivo. Ele se faz arte a partir do momento em que estes presos de um manicômio judiciário deixam de ser “objetos de estudo” e são gente – o necessário para a documentação cinematográfica e para o trabalho investigativo de um antropólogo.

O olhar, portanto, talvez seja o fator crucial para a grandeza do filme. Débora busca que seu caminhar pelo manicômio judiciário de Salvador a partir da perspectiva de Buba, um poeta que pontua o filme com sua narrativa. Ele não surge, a não ser no final, assim como um diretor em seu filme, cujo nome sempre surge nos créditos. Os outros, assim como ele, deixam de ser invisíveis não por aparecerem em imagem, mas porque, a partir do interesse de Débora, tem a chance de ser algo além das delimitações que damos a eles por estarem ali, num manicõmio.

Ricardo Oliveira

Direto da Sala de Imprensa do 4º Cineport. Filme assistido na Sala Digital, segunda-feira dia 04/05/2009.

[UPDATE]: O amigo Zan Jie Lee tuitou algo ótimo: “A Casa dos Mortos” está inteiro no YouTube, com legendas em inglês:

9 Replies to “A Casa dos Mortos (Débora Diniz, 2009) – 4º Cineport”

  1. Saber que ela é Antropologa ajuda muito a entender o video. Acho que a presença de Buba dá a amarra final necessária e importante ao curta, sem ele ficaria faltando algo mesmo. Um bom filme, mostrando uma forma diferente de se ver a loucura ligada a criminalização

  2. Quero parabenisar você Debora e todos que participaram desse trabalho, voces foram perfeito na escolha deste tema, pois falar de algo que é esquecido pela sociedade é tremendo. voces foram felizes nesta escolha,parabens que Deus abençoe mais e mais a todos voces.
    Estou ansiosa aguardando para assistir.

  3. Gostaria de saber como faço para assistir moro em Brasília na apresentação que teve na UNB não consegui ir. Obrigada

  4. @Lúcia e @Zorilda, só pra explicar: este blog não é nenhum representante do documentário “A Casa dos Mortos”, mas sim uma página de jornalismo opinativo sobre cultura. O texto acima é uma resenha sobre o filme e eu não tenho nenhum vínculo com a diretora ou produção. Logo, não tenho as informações sobre onde assistir. Agradeço a compreensão =)

    abraço’s

  5. POR FAVOR,COMO POSSO ADQUIRIR ESTE DOCUMENTÁRIO? A CASA DOS MORTOS.TRABALHO COM DOENTES MENTAIS,ME SERIA MUITO ÚTIL.OBRIGADA .SYLVANA

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