A engrenagem de Tempo de Verão, da Marcia Milhazes Cia de Dança, é formada basicamente pela embriaguez de afeto. Os bailarinos no palco estão a todo tempo externando em dança aquilo que seus personagens sentem. Marcia nos traz aquilo que parece funcionar o tempo todo como um filme passando de trás para frente. Todos os movimentos nos remetem ao exercício da lembrança, do saudoso, daquilo que se viveu e faz do olhar algo perdidamente delicioso. Sim, pois em Tempo de Verão há mais olhares do que temos habitualmente numa dança. No espetáculo temos os olhares embriagados de afeto, cegos de paixão, de solidão e de companhia. Olhares que constroem as coreografias e nos transmitem o exercício de imaginação sobre o fora-de-cena. Isso sem falar nos passos virtuosos (e como dançam bem…) que as duas bailarinas nos trazem, levando a pensar sobre valsinhas, sambas, boleros, abraços, beijos, liberdades e prisões. Tempo de Verão é lúdico e me fez rir com seu melodrama dançado. Um espetáculo sobre as adolecências dos nossos amores aparentemente adultos e sempre bom-humorados quando revistos tempos depois.
Ricardo Oliveira assistiu ‘Tempo de Verão’ dia 07 de junho de 2009 no teatro Paulo Pontes, João Pessoa – PB
Fotos: Divulgação