Valei-me Cortázar, que essa lista é, à sua maneira, muitas listas, e o leitor fica convidado a seguir suas possibilidades e ordená-la ou desordená-la da forma que lhe apetecer. Ao final, três apostas para o ano corrente e duas frustrações do que passou. Os critérios foram assumidamente parciais e os comentários não buscam traduzir nada além da neurótica impressão do autor de que está se esquecendo de alguma coisa, e ainda vai se arrepender muito por esse post.
Nota do editor: todos os links para download disponibilizados abaixo, só estão aqui por notarmos que os próprios artistas assim o fizeram ao longo dos últimos meses – seja através de um lançamento oficial ou não. Logo, se você não quer o link da sua banda aqui, nos peça que retiramos. Não nos processe – somos lisos e sem dinheiro para indenizações.
20. “Dois”, Partimpim
A brilhante versão de “Assim Sem Você”, de Claudinho e Bochecha, era o carro-chefe da primeira incursão de Adriana Calcanhotto como Partimpim, seu alterego entre as crianças. Agora a aposta está em dar tons pueris a “Gatinha Manhosa”, de Erasmo Carlos. E não para por aí: Partimpim brinca com Villa-Lobos, João Gilberto, Caetano e até Bob Dylan.
19. “Pequeno Cidadão”, vários
Desconsidere o rótulo de infantil, pois o trabalho é de gente grande. Arnaldo Antunes, Antônio Pinto, Edgar Scandurra e sua esposa Taciana Barros reuniram a turminha e fizeram este CD que você vai comprar pro filho mas guardar na prateleira alta da toyart.
18. “A Passeio”, Porcas Borboletas
Como a própria banda admite, “irreverência” virou salvo-conduto para a babaquice. Começa no Youtube e não leva a outro lugar que a Garagem do Faustão. Sempre houve as exceções (Wander Wildner e Cérebro Eletrônico, por exemplo, e Flávio C., para citar algo mais perto de nós). Nessa lista há duas delas: Charme Chulo, mais adiante, e Porcas Borboletas.
17. “Há Braços”, Adeíldo Vieira
Num ano em que a maioria das bandas paraibanas lançou EP´s, destaque para o segundo CD de Adeíldo Vieira, ótimo letrista e arranjador, vencedor da etapa estadual do Festival Nacional de Música da Associação de Rádios Públicas Brasileiras. “Há Braços” chegou em dezembro e correu por fora para integrar a lista.
16. “Zii e Zie”, Caetano Veloso
Na primeira empreitada com a banda Cê, talvez levado pela mocidade de Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado, Caetano radicalizou. Agora, os músicos é que parecem mais sintonizados à sua “vibe” experimental. Dá gosto ver como Caetano, com uma pequena ajuda de seus amigos, têm conseguido driblar a artrite paralisante do tempo com sua obra recente.
15. “Banda Gentileza”, Banda Gentileza
Agora sem o nome mas ainda com a voz e as cordas de Heitor na banda, o sexteto curitibano foi buscar inspiração até no leste europeu pra compor este CD, gravado em dez dias e produzido por Plínio Profeta (Grammy com Lenine e quase o topo com Tiê nesta modesta lista). Disco coeso, um début e tanto.
14. “Como Num Filme Sem Um Fim”, Pública
Não é só mais uma banda de britpop gaúcha (o que o Cachorro Grande morre querendo ser). A revelação do VMB de 2009 é uma grata surpresa e sabe prestar tributo ao rock inglês sem soar desfigurada. Mais: é tanto mais interessante quanto menos se aproxima de suas influências em busca da autenticidade.
13. “C_mpl_te”, Móveis Coloniais de Acaju
Talvez não exista no Brasil outro grupo que exerça domínio tão pleno sobre o seu público e consiga orquestrá-lo de tal maneira quanto os Móveis Coloniais de Acaju. Este CD, porém, prova que os Móveis não precisam de um palco para ser o que literalmente são: uma grande banda.
12. “Cha Cha Cha”, Retrofoguetes
A velha-guarda-nem-tão-velha-assim da música instrumental brasileira aqui se manifesta num álbum eclético, que agrega à sua tradicional levada surf music ritmos latinos como o tango e o bolero. Um CD que merece ser filmado.
11. “Feriado Pessoal”, Bruna Caram
Outra revelação, a jovem cantora paulista lançou seu segundo álbum depois de revelar o que havia de melhor na recente safra de vozes femininas da MPB com “Essa Menina” (2007). O novo trabalho conta com inéditas e releituras de canções como “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”, de Lô e Márcio Borges, que abre o disco com insuspeita força e põe Bruna ombro a ombro com nomes como Mariana Aydar, Roberta Sá, Ana Cañas, Andréia Dias, entre outras.
10. “Hominis Canidae”, Eu Serei a Hiena
Macaco Bong, Pata de Elefante, Burro Morto, Eu Serei a Hiena… Hoje em dia ficou fácil reconhecer os pendores instrumentais de uma banda: é só procurar a baia do zoológico em que ela resolveu se batizar. Este quarteto, formado por membros dos Ratos (ops…) de Porão, Dance of Days, Good Intentions, entre outras, tem a mão pesada do hardcore, mas sabe aliviá-la e colocar todo o virtuosismo do gênero a serviço de um barulho menos agressivo aos ouvidos.
9. “Vagarosa”, Céu
O que tem Céu que as outras cantoras não têm? “Vagarosa” dá pelo menos 15 respostas diferentes a esta pergunta, e se a dúvida persistir por que não simplesmente olhar pra ela e ficar com a resposta mais fácil?
8. “Tudo Que Eu Sempre Sonhei”, Pullovers
A banda cantava em inglês, o som era bacana mas você com seus seis meses de Cultura Inglesa não entendia muito bem as letras. Aí eles começaram a compor em português, você passou a entender o que eles falavam e parou de gostar da banda. Você já viu o filme, mas não espere esse final com os Pullovers. A primeira incursão da banda com o idioma é certeira, e o apelo nerd (em faixas como “Futebol de Óculos”) sedutor.
7. “Nova Onda Caipira”, Charme Chulo
O “chulo” está na formação: você até já deve ter visto grupo de rock sem guitarra, sem baixo, mas com uma viola caipira talvez seja a primeira vez. O “charme” fica por conta do vocalista Igor Filus, uma das poucas figuras realmente carismáticas do rock brasileiro atual, um Ian Curtis meio jeca que faz um som que flerta com o sertanejo e está sempre no limiar da paródia.
6. “Manacá”, Manacá
Num ano em que a cena independente carioca ficou marcada, pelo menos pra mim, como mais um da longa procrastinação de Do Amor (justiça seja feita, quase toda a banda estava ocupada com Caetano Veloso) e como mais um ano em que não precisei me envergonhar por gostar tanto de Moptop (já que o próximo CD, pelo jeito, só vai entrar na lista do ano que vem), o Manacá debutou em silêncio, no finalzinho de novembro, com todo o lirismo de Letícia Persiles, esta compositora promissora.
5. “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, Otto
Otto venceu meu preconceito contra sua música com uma mãozinha de Fernando Catatau e Julieta Venegas (que já operara milagres em mim com relação a Lenine – e nada pessoal com os pernambucanos: adoro por exemplo o Lirinha, que também participa deste CD colaborativo). Meu comentário, também colaborativo, pega emprestada a metáfora do próprio Otto: as canções deste álbum são flores do longo inverno pelo qual passava a carreira do artista, há seis anos sem gravar inéditas.
4. “Iê Iê Iê”, Arnaldo Antunes
Arnaldo já é um compositor sofisticado. Sofisticá-lo não é pra qualquer um: só mesmo músicos como Edgar Scandurra, Curumin e Marcelo Jeneci para encarar a tarefa. “Eu quero pôr Rita Pavone no ringtone do meu celular”, diz Arnaldo em “Envelhecer”. Esta faixa já ganhou o do meu desde a primeira audição e estaria fácil numa lista de melhores músicas (que prometi pra mim mesmo que não vou fazer).
3. “Chorume”, Numismata
Correria o risco de dizer que a cena independente paulista já seria uma cena somente com esta banda, não fosse reducionista o suficiente ter que escolher 20 discos favoritos entre os tantos que escutei e os mais que talvez nunca terei a oportunidade de escutar (e que certamente substituiriam alguns dessa lista, tivesse eu mais um ano para ouvi-los). É que “Chorume” é muitos discos em um só, e põe o Numismata num patamar pouco alcançado pelas bandas que usam a tal “maquiagem indie” tão criticada pelo dono desta casa: o daquelas que permanecem atrativas, mesmo depois que o calor dos holofotes derrete todo o pó.
2. “Sweet Jardim”, Tiê
Na propalada “Nova Geração da MPB”, que praticamente ecoa ao som de timbres femininos, Tiê está num entrelugar: não joga nem no time do sambarock nem do folk. Talvez seja isso o que dê personalidade ao seu primeiro CD, que consegue ser intimista sem escamotear aquele mau gosto musical comum a outros dois times: o dos “intimistas” e o dos “conceituais”.
1. “Uhuuu!”, Cidadão Instigado
Fernando Catatau, a exemplo do que outrora aconteceu com Caetano e Djavan, acaba de inscrever seu nome entre os verbetes da música brasileira. É que 2009 foi o ano da “catataulização”, quando o terceiro lançamento de sua banda foi quase que unanimemente apontado como o melhor do ano, e o músico esteve diretamente envolvido em pelo menos três outros lançamentos que não podiam deixar de faltar em qualquer lista como esta: “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, de Otto, “Vagarosa”, de Céu, e “Iê Iê Iê”, de Arnaldo Antunes.
– Três apostas para 2010: Bazar Pamplona, Do Amor e Supercordas.
– Três bandas superestimadas em 2009: Garotas Suecas, Holger e Ecos Falsos.
Faltou Eddie e seu belo Carnaval no Inferno né não?
Parabésn pelas escolhas – meus top 4 (o 5 é o Eddie) estão aí!
Bjs
Mea culpa: não ouvi o Eddie a tempo. Obrigado, Claudinha!
Thi, demorou mas hj baixei todos os albuns que faltavam….
Achei sua escolha dignissima, apenas trocaria a Ceu pelo Pethit, no mais amei,
Vou ouvir algumas coisas que nao conheco ainda e depois conto.
Saudades de ti, Ti.!