Max está “atrasado”. Todavia, a certeza após assistir Onde Vivem os Monstros, é de que não existe tempo certo para rituais de passagem. Eles simplemente acontecem. Amadurecimento não avisa quando vai chegar – muito menos o seu turbilhão. A ambiguidade é de uma sutileza ímpar: a realidade, para Max, é monstruosamente doce. Monstruosa porque é real – e isto basta; doce porque a imaginação do garoto lhe é suficiente para enfrentar tudo que a princípio lhe assusta ou lhe contraria. Nasceu com um rei na barriga e não demora para que se auto-proclame um, vivendo a profusão de conceitos que gerariam algo como um anarquismo-monarquista. Ao contrário dos mundos imaginados de sempre, a realidade vivida por Max (Spike Jonze nunca deixa de acreditar nela) é plenamente corajosa: deseja-se aqui, enfrentar tudo que será necessário para enfim, crescer. Conhecer a diversidade; entender que fortalezas servem muito pouco; descobrir os limites ao perceber que também pode-se estar do outro lado, que antes não se desejava.
Jonze não nos priva de silêncios e valoriza, do começo ao fim, as descobertas do olhar; a beleza da contemplação; o feel good. Em todo ritual há um “depois” e aqui vemos se formar um novo jeito de ver o mundo. Max passa a enxergar a realidade docemente amarga de uma nova maneira – e nós também.
A melhor parte do filme foi Max subindo em cima da mesa, e a lembrança recorrente da maníaca do shopping.
Amo você.