Filme encantador, o novo de Sérgio Machado. Só é difícil recebê-lo, tendo em vista a mudança brusca que temos de Cidade Baixa para cá. É a mesma Bahia, as mesmas texturas, sabores, cheiros, climas. Mas ele vai da brutalidade ao cômico. Isso faz com que eu queira rever Quincas (e, por consequência, “Cidade…”).
O filme tem um ganho excepcional sempre que coloca na mesma sala a classe média e a malandragem bahiana. O melhor do filme surge exatamente aí nesse encontro (assim como no humor negro, que ficou um tanto tímido). Se as tiradas bem-humoradas da voz off de Paulo José carecem de mais brilho, quando ele fala sério no trecho final é que nos emociona de verdade.
Quincas Berro D’Água também sofre um tanto na mão do excesso de personagens. São muitos para se acostumar, criar uma relação que se faz importante. O afeto de Quincas, vivido por Marieta Severo, é um dos exemplos. Além de ela não estar tão bem no papel, não consegui achar assim tão emocionante a relação que os dois viveram. Enquanto que a personagem de Mariana Ximenes ganha um tratamento cuidadoso: ela diz muito pouco sobre o que pensa e deixa que seus olhos e gestos nos digam tudo sobre como está reagindo a tudo isso.
Ao fim, uma bela homenagem à obra de Jorge Amado, que anda um tanto esquecido por quem curte adaptar literatura no cinema.