É difícil filmar skatistas em ação sem seguir certos clichês televisivos. Talvez o maior deles seja justamente a câmera lenta. Até hoje conhecia apenas dois registros artísticos que me encantaram de maneira diferente, filmando estes seres equilibrados em quatro rodinhas.
Tanto Heaven (curta de Spike Jonze e Ty Evans) quanto certas cenas de Paranoid Park (de Gus Van Sant) trabalham com o slow motion para dar a sensação de suspensão sobre o mundo. Jonze e Evans lançam mão do fantástico e disparam explosões na passagem dos skatistas durante suas manobras. O mundo explode e eles estão acima disso, flutuando. Já Van Sant, inserindo as manobras dentro do sentido do filme, ressignifica: estes também estão num flutuar à parte, mas numa determinada cena, o diretor nos remete ao inesperado, à surpresa que o cotidiano do skatista sempre traz (neste caso, o erro). Tudo se encaixa na história com perfeição.
No vídeo acima, sugerido pelo sr. @leolecal no Twitter, o diretor Brett Novak vai para outro conceito e o também o faz com maestria. Novak já dirigiu clipes de gente famosa, como Beyoncé e Duffy, mas aqui filma o skatista Kilian Martin. Novak trabalha com o corpo que dança na frente da câmera e o sentido que alcança é todo baseado na virtuose de Martin e, obviamente, no seu trabalho de direção.
O curta é todo articulado, preocupado com certa mise-en-scene e com uma fotografia que, por vezes, dá certo tom etéreo. Novak ajusta planos, faz cortes claramente tendo trabalhado com repetições para alcançar o resultado esperado para o filme final. O equilíbrio é ponto-chave: a edição faz uma brincadeira com o slowmotion que nos dá sempre a sensação exata de que Kilian pode cair a qualquer momento. Mas não cai, assim como o filme de Novak.