Sempre tive uns três ou quatro pés atrás com o Arcade Fire. Até que eles me aparecem com este “The Suburbs” que, assim como acontece com alguns cineastas, faz você ter vontade de voltar a toda obra anterior com outros ouvidos/olhos. Ainda não fiz isso, mas fato é que, independente de qualquer coisa, “Ready do Start” já é a música do ano: letra priomorosa, riffs certeiros e um refrão dançante pra ninguém botar defeito. O Suburbs é um álbum pra se ouvir com muita calma, porque tem todo aquele esquema de conceito por ali, permeando as letras, quase como um longa-metragem ou um romance. Daí as comparações desnecessárias com o “Ok Computer”…
Ao que tudo indica, amanhã sai crítica de Cananéa no Jornal da Paraíba. Ele tinha dito que o álbum não o agradou quando ouviu enquanto lavava pratos. Até que numa volta pra casa, de carona comigo depois de um fim de semana “levinho”, a canção que você vai dar o play acima, o pegou de jeito. Aliás, Terry Gilliam executa aí uma das melhores direções de clipe ao vivo que eu já vi. Ansioso para comprar o DVD.
O encantador de “The Suburbs” tem justamente uma capacidade muito rara na arte: falar de “especificidades universais”. Quando ensaia pensamentos, narrativas e, por que não, timbres sobre os suburbios americanos, a turma do Arcade Fire mostra que veio pra realmente deixar sua marca. Não custa lembrar que os “subúrbios” americanos são aquelas áreas construídas longe do centro da cidade, com muita segurança, jardins abertos, vizinhos felizes e…Beleza Americana. Eles já existem em João Pessoa, em forma de condomínios fechados, seja no litoral sul ou norte.
É inegável que o Arcade Fire fez um grande álbum, mas toda sua capacidade é melhor explorada no palco. Quem assistiu a apresentação dos caras ao vivo via YouTube/Vevo, sabe do que estou falando. André mesmo que o diga: já teve a chance de assistí-los no Tim Festival e atesta tudo isso. Contudo, ainda é importante dizer: se você ouvir o Suburbs e começar a estranhar todo esse excesso oitentista na sonoridade, não se engane: há muita invenção ali. Vale a pena ouvir outras tantas vezes e, preferencialmente, ter as letras por perto. “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)” é, para ouvidos menos atentos (como fui inicialmente), apenas uma balada animadinha feita em mil-novecentos-e-oitenta-e-alguma-coisa. Conferir a letra é descobrir que os amigos do Arcade, além de executarem um grande som, conseguem expressar meia tonelada de sentimentos de uma geração urbana, afogada nos prédios e luzes das metrópoles como a nossa.
Como se não bastasse tudo isso, os caras ainda fecharam uma parceria com o Google e convidaram Chris Milk para dirigir um projeto maluco: criar um videoclipe interativo que envolvesse o Google Street View. Não dá pra explicar direito, só posso garantir que é muito bacana. Acesse o The Wilderness Downtown usando Google Chrome.
“We used to wait…”
melhor eh sprawl II, sem mais