Já em meio ao verão 2011 chega atrasada a hora de relembrar o que de bom rolou na cultura pop nacional e gringa de 2010. Ao contrário dos anos anteriores, quando eu pelo menos tentava me dedicar a consumir uma boa parte dos discos e filmes mais mencionados, neste ano isto foi impossível. Sendo assim, torna-se injusto qualquer tipo de lista chamada de “O melhor”. Papeando dia desses com o amigo Tiago Germano, que ano passado contribuiu brilhantemente com um Top 20 com os melhores álbuns nacionais de 2009, ele parece estar no mesmo ritmo: o bom é falar do que a gente gostou e pronto. Se os mesmos nomes também estão em listas “oficiais” por aí, beleza. Sendo assim, vamos lá.
Música Nacional
Foi um ano de descobertas interessantíssimas na música nacional. Fazia tempo, muito tempo, que eu não ouvia tantos CDs bons. Fiz bons achados nas recomendações da lista de Tiago, em 2009, mas a maior parte não passou da primeira audição. Em 2010, porém, alguns nomes me surpreenderam. E o melhor: são artistas lançando seus primeiros álbuns.
Efêmera, de Tulipa Ruiz, é uma quase-obra-prima evidentemente rara na música nacional. Ainda que case em certas tendências da sua geração e se encontre com a trupe chamada de Novos Paulistas, é um disco diferenciado: é pop sem medo, mas pop com categoria. Sabe onde quer chegar, com um bom humor permeando letras doces e bem elaboradas. A cozinha instrumental, praticamente familiar (seu irmão e pai tocam na banda) é impecável e retornam a sonoridades vintage sem afetação da boa música nacional. Tulipa canta muito e, sempre encantadora no ao vivo, tem a assinatura de muita gente pra ficar por aí e nos trazer mais música efêmera-eterna.
No rock, os sulistas do Apanhador Só vieram com um debut que, aos ouvidos menos atentos, seria enquadrado na tag “bandas pós-hermanos” – o que é bastante injusto. Sim, devem a Camelo e Amarante, mas está longe de ser só isso. Apostam nas letras com narrativas que soam quase non-sense, permeados por seus interesses em mesclar “música nacional com rock” (e lá vai mais outro clichê ligado aos hermanos). “Peixeiro” e “Maria Augusta” tocam repetidas vezes na playlist, mostrando que a cena portoalegrense pode trilhar outros rumos além da Cachorro Grande e Bidê ou Balde.
Feito pra Acabar, de Marcelo Jeneci é o terceiro álbum de estreia deste texto e isso me empolga. É sinal de que no mar gigante de independentes que agora trilham os caminhos do MySpace (ele ainda vive para este fim ou o YouTube é o novo rei?) no Brasil, ainda tem muita coisa a se descobrir. Jeneci já era parceiro de Arnaldo Antunes, Vanessa da Mata e outros nomes antes de lançar seu primeiro disco. Vem agora retomando o acordeon na música nacional, dentro de um CD eclético que passeia pela jovem guarda, brega, pop e rock. A música tema do álbum, junto a “Pra Sonhar” e “Por Que Nós” são obras-primas dentro de um todo impecável que vai durar.
Em Esperar é Caminhar, o Palavrantiga revela mais facetas que as iniciais propostas no EP “Volume 1”. Agora, afirma-se como banda que celebra sua espiritualidade sem medo do que vão dizer, convencidos de que podem, sem estar em cima de muros, transpirar sua fé na música que fazem. O disco retoma algumas faixas do primeiro EP, mas também nos apresenta novos rumos como a corajosa “Rookmaker” ou o belo rock oitentista “Seguro Vou”. Sou suspeito pra falar deles, então é melhor parar por aqui.
Destaco, por fim, a trupe carioca do coletivo Echo: Alforria e Eduardo Mano, que lançaram seus trabalhos (o primeiro um pack com 2 músicas, já o Mano o álbum Velhas Verdades) via Internet, na independência completa, mas com cuidado e talento o suficiente para chamar atenção. Fiquem de olho.
Merecem citação porque também mandaram bem: Ortinho, Karina Buhr, Pato Fu, Thiago Pethit, Nina Becker.
Música gringa
Apenas em seu terceiro álbum, The Suburbs, o Arcade Fire conseguiu me conquistar em definitivo. Antes, fiquei limitado a gostar de algumas poucas canções, mas sempre com certo abuso. Se a genial “Ready to Start” tocou zilhões de vezes na playlist, não ficaram também atrás a épica oitentista “Sprawn II” ou a saudosista “We Used To Wait”. Uma obra-prima que me ensinou a gostar dos seus 2 primeiros discos.
Mumford & Sons com Sigh No More foi o nome com raízes pra lá de contry que me deixou pilhado. Belíssimo CD, que leva você numa montanha russa bacanérrima em suas letras, no melhor estilo davídico no Salmo 23.
Eu citaria outras coisas, mas como agora eu sou um blogueiro irresponsável, eu não ouvi outras coisas atentamente. Certamente estarão em posts futuros nomes como Sufjan Stevens fugindo do folk ou Gorillaz gravando tudo num iPad.
Fico por aqui. Nos próximos dias: melhores filmes e uma retrospectiva nova.
Em nome do Coletivo Echo, e em meu próprio, agradeço as citações. hehehehehe
abraço cara! :D