Os Vingadores (Joss Whedon, 2012)

Os Vingadores em ação, pelas lentes de Joss Whedon

Espetáculo, de ponta a ponta

Esse divertido mundo do cinema patriótico. Vingadores é isso: a América se reerguendo e dizendo que está pronta para qualquer ameaça. Se não são mais os terroristas, pode ser a crise econômica ou outra coisa qualquer. Está pronta com sua tecnologia (Stark, Gavião), com seu patriotismo e postura de liderança (Capitão América), com uma força explosiva e incontrolável (Hulk). Não quero dizer (seria precipitado) que o filme se posicione totalmente assim, com metáfora redondinha sobre algo (América de hoje), mas é impossível não percebe-lo no contexto de hoje sem notar a força que tem e os discursos que propõe. Ainda mesmo que o filme se defendesse como inocente de tal postura, seria curioso o Nick Fury de hoje ser negro e começar a convidar os salvadores do mundo com um discurso que admite os erros do passado, mas espera um posicionamento vigoroso contra as ameaças atuais.

“Os Vingadores” é uma pérola de diversão blockbuster. O filme é um espetáculo, de ponta a ponta, trazendo personagens já construídos em um conjunto de filmes anteriores e sem a necessidade de apresentações. Apenas continuamos a conhecê-los, agora observando os confrontos de seres que, no background de cada um consta um tópico que diz: “salvei o mundo”. Nesta continuidade, por exemplo, o inimigo Loki me pareceu muito menos enfadonho que em “Thor” e bem mais rico em seus discursos sobre governo, liberdade e poder. Curioso até como que, em Asgard, seu elmo com dois grandes chifres nada passa disso. Na terra, porém, na primeira vez que aparece, matando e impondo autoridade, o mesmo elmo simboliza claramente o mal diabólico contra a civilização ocidental (no cinema americano o mundo só tem um lado, afinal).

Loki e seu simbolismo no contexto ocidental: chifres e o fim da liberdade

Para quem não acompanhou a história desses personagens a partir dos quadrinhos, fazendo do filme uma experiência narrativa mais ampla, “Os Vingadores” proporciona uma amplitude essencial: as histórias de cada um se conectam através das décadas e se completam na missão comum. Isso tudo me parece assim um trabalho de roteiro bem realizado por Joss Whedon, diretor e co-roteirista do filme. O texto é satisfatório na maior parte do tempo, também passeando entre o piegas (mas necessário, afinal é pipocão e filme de super-herói) e o preciso (as falas de Loki, as tiradas de sempre de Tony Stark).

Um dos maiores acertos de Whedon é conseguir fazer com que os efeitos especiais sejam praticamente “invisíveis”Whedon (numa olhada superficial de quem viu o filme apenas uma vez) de certa forma realiza uma espécie de mistura entre o trabalho de Jon Favreau (no primeiro “Homem de Ferro”) e Joe Johston (de Capitão América) – claramente os melhores filmes desse universo “Avengers” que estabeleceu. De Favreau ele pega o humor das tiradas, das gags (Hulk e Thor, perto do fim, me renderam uma garagalhada que há tempos não dava no cinema). Como Johston, Whedon filma a ação com classe e o desejo de que ela seja clara. Parece até uma resposta direta ao cinema de Michael Bay: um grande monstro robótico e extraterrestre, destruindo prédios e tudo mais, sendo filmado com planos que duram mais do que 1 segundo. Por sinal, o uso do 3D no filme foi melhor do que o que esperava. Não é desnecessário e, especialmente no trecho final, me parece fazer uma boa diferença na imersão, de tão bem utilizado.

É de uma beleza plástica quase sem precedentes nos filmes de super-herói, o passeio da câmera e a montagem no trecho em que Loki (Tom Hiddleston seria o melhor ator em cena?) invade um prédio na alemanha. Digo quase porque lembro com carinho do único acerto de Zack Snyder em “Watchmen”: o comediante lutando pela vida em seu apartamento, ao som de “Unforgettable”.

Um dos maiores acertos de Whedon em seu filme é conseguir fazer com que os efeitos especiais sejam praticamente “invisíveis”. Eles não estão lá para serem notados, mas sim para dar suporte à narrativa e aos anseios do diretor para a audiência. Este talvez seja um dos maiores méritos para quem trabalha na área de efeitos visuais: seu trabalho, de tão bom, não é mais notado que a cena, que a história. As cenas de luta, sempre baseadas em lógicas de efeitos especiais, me tiraram o fôlego grande parte das vezes e isso é impressionante.

Se o final fica com cara de apagadinho, ao menos a expectativa de uma sequência empolga bastante. Queira o bom Deus que Joss Whedon continue acertando na sequência. Ele já foi confirmado para o próximo filme e parece interessado em fugir da fórmula inicial. A gente se fala em 2015.

—–

PS(1).: o diretor parece ser tão apaixonado por Scarlet Johanson quanto todos os nerds da plateia (o blogueiro aqui, incluso). Concordam?

PS(2).: incrível como as cenas de gags do Hulk são bem dirigidas, fazendo referência a um estilo quadrinesco. Hulk foi um dos únicos super-heróis que acompanhei nos quadrinhos por um tempo e até mesmo o estilo de humor adotado faz parte da linha que se seguia nas revistas.

Visto no Cinespaço (Mag Shopping) em 3D.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *