Conferência Oxigênio 2012 | Parte 2: reportagem no Jornal da Paraíba

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Escrevi reportagem para o Jornal da Paraíba para falar de um assunto que já passa pelo Diversitá há algum tempo. Existe no Brasil um grupo de artistas cristãos interessados em apresentar uma proposta nova?

As discussões retornaram com a Conferência Oxigênio e, pra mim, ela é um marco no contexto brasileiro. O texto explica o porquê. Polêmicas já começaram a surgir em críticas que passeiam entre o apressado, pertinente, incoerente, cuidadoso e arrogante. Façam suas considerações logo após a leitura do texto. Agradeço ao editor do caderno Vida & Arte, André Cananéa, por ter confiado que essa era uma pauta válida.

A banda Leeland na conferência Oxigênio

Aleluia! Indies no palco

Dentro do mundo gospel, vertente roqueira alternativa ganha força pregando o bem sem ‘papo de crente’

A explosão de hits da música gospel no Brasil começa a consolidar um mercado definitivo, profissional e organizado. Nomes como Aline Barros e Thalles Roberto compõem um cenário envolvendo não só discos para o largo segmento evangélico, mas eventos, premiações, programas de TV e muitas vendas.

Para toda tendência pop, há uma faceta alternativa não revelada. Foi no último fim de semana em Recife que um evento demarcou esse novo território: a Conferência Oxigênio, promovida pela organização Plano B.

Marcos Almeida apresenta a canção "Wave", de Tom Jobim em sua oficina na Oxigênio

Acontecendo em datas próximas e no mesmo local de um festival consolidado no Brasil, o No Ar: Coquetel Molotov, a Oxigênio chegou à sua terceira edição. Foi em 2012 que o evento marcou sua curadoria musical delimitando convites a alguns artistas que compõem o quadro de música independente, feita por cristãos em busca do distanciamento do rótulo gospel e uma nova forma de enxergar a arte que produzem. Mais de 2.000 jovens de 17 a 30 anos estavam por lá, garantindo que há público para assistir desde dinossauros do rock cristão nacional, como os paulistas do Resgate, até Lucas Souza, Tanlan e os americanos do Leeland.

“Tendo uma experiência cristã no dia a dia, a gente pode e deve ter a liberdade de cantar outros temas”, afirma Marcos Almeida, cantor e compositor da Palavrantiga. Marcos e a banda se tornaram referência de um projeto em busca de ampliar horizontes fora da igreja. Sua música chamou a atenção de Henrique Portugal, tecladista do Skank, e da dupla Christian e Ralf – que regravou a canção “Casa”, da banda.
Umbanda music?

Em sua oficina na conferência, Marcos propôs pontes entre cristianismo e música brasileira, mostrando como canções de Nelson do Cavaquinho (‘Juízo Final’) refletem uma fé cristã na arte que deveria ser reencontrada pelos evangélicos. “Apenas no Brasil se categoriza um gênero musical pela definição religiosa”, analisa o cantor, notando que existe rock gospel, reggae gospel, tudo gospel. “Desse jeito, muitas das músicas de Caetano, Gil ou Céu deveriam se enquadrar na categoria ‘Umbanda Music’. Não faz sentido”, afirma.

“Apenas no Brasil se categoriza um gênero musical pela definição religiosa”Certo de que música deveria ser percebida apenas como música, Marcos lembra que muito disso se deve a uma segmentação feita pelo próprio evangélico. “É o ‘evangeliguês’ que nos mantém cada vez mais no gueto e longe da rua, das pessoas”, reforça o cantor mineiro. “Evangeliguês” é o neologismo que o grupo usa falando dos clichês da música gospel, no geral focada em temáticas herméticas e compreensíveis apenas por quem transita no caminho religioso.

Junto a bandas como Tanlan, Aeroilis ou o cearense Felipe Flakes, o coro é de renovação e respeito ao que já foi feito no passado. “A gente parece se alinhar àqueles artistas do pre-movimento gospel nos anos 80. Estamos tentando evoluir naquilo que eles deixaram”, lembra Marcos se referindo a cantores como Vencedores Por Cristo (de ontem) e João Alexandre (de hoje).

“Eu vou continuar chamando a minha música de brasileira, de rock nacional e sem me importar muito com os rótulos do mercado”, completa o cantor do Palavrantiga, que lança seu segundo CD pela Som Livre ainda este mês.

Fábio, vocalista da Tanlan e o melhor show da Oxigênio

Nos bares, o pós-gospel

“O dono do lugar se impressionou quando viu que a gente não dava prejuízo no bar”, afirma Fernando Garros, baterista da banda gaúcha Tanlan. O relato é de quando os rapazes certa vez foram convidados a tocar num bar, no Maranhão. Por lá, fizeram o show, agradaram o público e surpreenderam o dono do local.

“O dono do lugar se impressionou quando viu que a gente não dava prejuízo no bar”Sem fazer do show um culto com catarses religiosas, a apresentação da Tanlan foi a melhor da conferência Oxigênio, tocando num espaço menor, para 300 pessoas. Refrões como “O amor, louco é o amor / Desfaz a dor transformando tudo / O amor, não há outro / Como o amor mais louco do mundo” mostram o que a banda quer dizer, para o bom entendedor.

Com influência do rock de refrões pop de bandas como Foo Fighters e Switchfoot, a Tanlan chega ao seu segundo disco, “Um Dia a Mais” em 2012. O disco está disponível para ouvir gratuitamente no site www.tanlan.com.br.

Rayssa Ares (25), relações públicas de João Pessoa que estava presente na conferência, afirma que o som de bandas como Tanlan e Leeland a agrada mais que o gospel que chega ao topo das rádios. “Elas me fazem sentir uma sede de refletir, de fazer coisas novas”, ressaltando o fato de encontrar mais poesia e menos clichês no som das bandas presentes no evento.

Zé Bruno, vocalista da banda Resgate que tem mais de 20 anos de estrada, publicou texto no Facebook elogiando a Tanlan, logo após a Oxigênio. Criticando o saturado mercado gospel de soluções fáceis, parodiou Arnaldo Antunes, sendo esperançoso sobre o que vem por aí: “Cópia, versão, fé, enlatados / Revelação, mais unção, e o pré-fabricado / Mexas, bárbies, clipes, relógios dourados / Tiques, Sarzedas e Disney, auditório animado / Mas o pulso ainda pulsa (graças a Deus) / O pulso ainda pulsa”.

Publicado originalmente no Jornal da Paraíba

4 Replies to “Conferência Oxigênio 2012 | Parte 2: reportagem no Jornal da Paraíba”

  1. Parabéns pela matéria, Ricardo! Me passaram o link e passei aqui pra conferir.
    Inclusive, na semana anterior ao Oxigênio, toquei em João Pessoa e me falaram muito bem de você.
    Deus abençoe!

    Filipe Flakes.

      1. A honra é minha. :)
        Espero poder voltar em breve em Jampa e nos conhecermos pessoalmente.
        Grande abraço.

        Filipe Flakes.

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