Marco importante para dar algum vigor à programação da cidade, estreia nesta sexta “Boa Sorte, Meu Amor”, longa do diretor Daniel Aragão. Como parte da intensa e interessante cinematografia que surge em Pernambuco, “Boa Sorte…” propõe uma visão sobre o urbano-rural recifense a partir das buscas de um jovem abastado local. O olhar sobre um Recife que tem raízes pautadas pela escravatura fica evidente desde os primeiros minutos, mas este não é o assunto do filme – mas sua base. Está ali como uma proposição de fundamentos. Assim como faz Kléber Mendonça Filho em “O Som ao Redor”, não é possível enxergar além no hoje sem entender o ontem.
Com fotografia em preto e branco, alguns elementos de trilha e figurino, “Boa Sorte…”brinca com a questão destes diferentes tempos de uma mesma cidade: urbano e rural, de ontem, de hoje – prédios sendo demolidos, BMW chegando à minimalista cidade do interior, etc. Trata-se de um fôlego no uso da linguagem de um cinema que padece, em seu circuito de arte, a muitas vezes repetir fórmulas (leia-se clichês) do próprio circuito.
Aragão não faz um filme impecável, contando com alguns problemas de montagem que prejudicam especialmente o ritmo da segunda metade, assim como a fragilidade de alguns momentos de atuação do protagonista. A obra, no entanto, revela um cineasta a se dar atenção, com um olhar que merece ser acompanhado.