Resumo
Direto do mundo das séries de TV que quebram paradigmas, Daniel Jerimum, Gi Ismael e Ricardo Oliveira puxam um papo sobre True Detective, da HBO. Descubra porque você precisa assistir a esta história de detetives permeada por filosofia, misticismo, suspense e uma voz arrastada. Confira também as dicas da semana e a leitura de comentários do episódio 16 =)
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Links comentados no episódio
– Artigo de Ricardo sobre True Detective
– Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar
– Fast File Transfer
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Assistiu a True Detective? O que achou da série?
Quando falo de TD sou categórico: é a melhor coisa da televisão norte-americana desde Breaking Bad. Como um cara assumidamente fanático por BB, me arrisco a ir além. TD consegue ser tecnicamente tão bem construído quanto BB e filosoficamente/dramaticamente muito mais denso (no bom sentido). Ainda que as duas séries tenham uma longa lista de “intertextualidades”, digamos que, especificamente, a bibliografia de Filosofia pós-moderna de TD é bem maior que a de BB.
Sobre a série ser arrastada/enfadonha/com enxerto de linguiça… Acredito que até daria pra dar uma enxugada nos episódios, mas não sem perder algo relevante para a construção da trama e das próprias personagens. (Diluir o episódio 3? WAT!?) Estamos falando de uma série com 8 episódios com duração média de 50 min. Se compararmos com as grandes produções da TV dos EUA, TD pode ser até considerada uma minissérie! E véi, a fala “monotônica” de Rust é proposital! Assim como a retórica fudida dele! É pro cara bater o olho e falar: esse cara é o ninja da série!
Em tempo, muito legal o podcast. Já tinha lido o texto de Ricardo sobre razão e fé em TD e o podcast acabou complementando o que não tinha sido comentado lá e reforçando outras coisas lembradas por quem viciou em TD, como o good cop/crazy cop que Cananéa bem observou naquela conversa de corredor.
Apesar de tudo que foi discutido e falado, deixo aqui um ponto que é tão perceptível em TD que ninguém se comenta muito, mas que pra mim é a síntese dramática da série. Maniqueísmo. Tudo naquele mundo louco de Rust e Marty é sobre o bem o mal, a luta entre eles, o fazer parte de um dos lados. É sobre como nos apegamos desesperadamente a esse pensamento, mesmo flagrando situações que desconstroem essa perspectiva. É sobre humanidade, o ser humano no sentido bruto, com qualidades e defeitos, personalidades moldadas a partir das experiências de vida (a tábula rasa de Locke). E ao meu ver, nesse ponto, há uma intersecção entre TD e BB.
Não à tôa, duas séries fodas que reinventaram a produção televisiva dos EUA, recorrentemente escrava do aspecto comercial e dramaticamente superficial ou clichê.
Não acho que a narração seja monótona, como foi levantada no cast. É a voz de um homem cansado de tudo. Faço uma relação com a narração do Tropa de Elite, que tem a mesma pegada, a “monotonia” é algo diegético, que faz parte da construção não só do personagem, mas da história em si.
Agora uma dúvida, a construção da história era um foco sobre o feminino, certo? Vítimas femininas e tudo mais… mas já no final o “monstro” ataca e mata um menino e demonstra interesse por um outro, achei meio que fugiu do contexto, o que vocês acham?