A forma mais tradicional de documentários se pauta bastante pelo modelo tradicional de lead jornalístico: primeiro fala o que, o quem, o como, o quando, o onde e o porquê e, depois, explica os motivos, as análises, as justificativas – ou seja, destrincha cada um dos elementos do lead através das falas dos entrevistados, inclusive na introdução. Isso pode acontecer de várias formas: em uma frase dita pela principal personagem da história, na voz de um narrador, com apenas uma imagem.
Tiger King, ainda que faça um breve resumo sobre seu tema logo de início, num estilo televisivo de “true crime”, buscando toda atenção possível, segue se pautando pela lógica da ficção para garantir audiência: prefere muito mais esconder do que mostrar. E assim, gera aquilo que é sua maior virtude, mas também pode ser seu maior problema – com ênfase no pode ser, porque acho não compromete a obra: ao editar as falas dos entrevistados, costurando-as para construir uma história, Tiger King revela pouco a pouco todas as camadas da intrincada história que esses personagens viveram (alguns ainda vivem). Enquanto faz isso, entretanto, nos submete a esse jogo quase maniqueísta de manipular a apresentação de uma fala para o contexto exato, ainda que seja evidente que muitas vezes isso foi dito em outra linha do tempo, às vezes em outro contexto.
A minissérie, assim, parece escolher nunca se aproximar de um território artístico porque sabe que mesmo no streaming está trabalhando com tropes e cliffhangers tradicionais. Tiger King poderia ser um “O Homem Urso” sobre felinos, mas não é e faz isso acertadamente, intencionalmente e sabiamente.
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Uma observação importante: sem saber do que se tratava, fiquei empolgado como o episódio extra de follow-up que a Netflix decidiu fazer. Mas é a mais pura perda de tempo. É um fan service inútil, conversando com os entrevistados da série e fazendo o papel de um programa de TV e não de ser complemento ao documentário. Sugiro você não perder seu tempo também.