É tudo encanto em “Um Fazedor de Filmes”, documentário de Arthur Lins e Ely Marques (2006)

Estou republicando este texto de 2006 em virtude da morte de Ely Marques no último dia 03 de abril de 2021. Além do post que escrevi sobre ele, fica aqui essa homenagem ao seu trabalho criativo – vital ao cinema paraibano contemporâneo. Infelizmente o filme não está disponível para ser assistido atualmente na Internet.


É tudo encanto

Um Fazedor de Filmes é um filme sobre encanto. Sobre três tipos de encanto que regem três tipos de relação com o cinema (ou vídeo, como queiram). O encanto de um cineasta amador que, um dia, descobriu na sétima arte um sentido para algo que ele buscava percebendo ou sem perceber. Ivanildo queria ser ator e descobriu que fazendo filmes poderia ser um. Sendo o diretor, podia sim incluir-se como um dos participantes do elenco. E assim o fez, juntando amigos que pareciam gostar da brincadeira de filmar histórias interessantes. Tudo encanto por esse mundo de interpretar frente a uma caixa com lentes que poderiam fazer deles novas pessoas e da cidade de Soledade, novos mundos. Encanto pela ideia desse enredo ser apresentado em telão na praça pública para todos da cidade.

Há um outro encanto. O de quem tem o olhar em busca de grandes achados mesmo que estes, por muitos, não sejam considerados grande coisa. O encanto de quem está atrás da beleza de um depoimento que vem naturalmente. A beleza de uma descoberta que traz novo fôlego a essas buscas. Arthur Lins e Ely Marques acham Ivanildo e seus colegas e ali firmam relação que, por certo, não se resume a de entrevistado e entrevistador. Parece, pelo o modo de filmar dos diretores, pelo o modo de colher esses depoimentos, que não há necessidade de um espectador. Que a conversa não está para um possível grupo de pessoas que um dia talvez assistiriam numa sala escura tudo aquilo que fora captado. Arthur e Ely são os primeiros espectadores do filme. Por isso, suas intervenções – perguntando e acrescentando-se às falas de alguns dos entrevistados -, não parecem ser de um diretor de documentário perguntando para seu “objeto de estudo/apresentação ao mundo”. Mas, parece sim, o que nós gostaríamos de perguntar a Ivanildo se tivéssemos o descoberto.

Mas há espectadores. Aí entra o terceiro encanto. Como Ivanildo, muitos sonham em fazer filmes. Mesmo que por brincadeira ou, realmente, levando a sério. Os sites de relacionamento através de divulgação de material audiovisual estão aí para comprovar. Todos querem filmar e mostrar. Contar histórias através da força simbólica da imagem. Há espectadores e esses querem ser fazedores de filmes. Sejam estes, filmes que descobrem ivanildos ou filmes que atraem outros arthurs e elys. A riqueza de Um Fazedor de Filmes está no encontro dos três encantos que o rondam. Os encontros são o clímax da metalinguagem que atravessa todos os relatos. A história de Ivanildo não poderia ser contada num livro ou no rádio com a mesma riqueza. Pura metalinguagem. Puro cinema.


Trailer:

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