É preciso que fique logo bem claro: eu sou um entusiasta do Fest Aruanda. Sempre fui sincero em minhas coberturas, falando de tudo que assisti, tentando criar uma reflexão à respeito da produção universitária nacional que podemos assistir por lá. Mas eu também sempre deixei claro que o festival já enfrentou problemas de curadorias incertas, atrasos excessivos e outros pequenos problemas. Isso, entretanto, não tira meu entusiasmo de continuar cobrindo anualmente este evento importante para a cidade.
Tem vaga aí?
Esse ano o sofrimento começou, pra variar, com estacionar. A dica é simples: chegue cedo ou vá de táxi. As vagas para estacionar na região do Hotel Tambáu são bastante complicadas: eu passei precisamente 50 minutos girando os quarteirões até conseguir um espaço pra colocar o carro. Enfim, vamos ao festival.
Noite de abertura é aquela coisa, políticos e afins. Foram colocados no palco, juntos, o Gov. José Maranhão, o Mag. Reitor Rômulo Polari e o Pref. Ricardo Coutinho, junto a Lúcio Vilar e a um ator convidado representando a LC Barreto Produções. Dos três primeiros citados, você já sabe o que veio:
“Parabéns ao Fest Aruanda, e por sinal, gostariamos aqui de lembrar que nossa gestão tem realizado…”
Enfim, você já entendeu. Foi 1 hora desse papo.
E os filmes, hein?
Kohbac – A Maldição da Câmera Vermelha é um filme necessário historicamente, mas oscilante enquanto cinema. A última obra de Lúcio Vilar, revela que na década de 1960 a UFPB comprou uma câmera 35 mm, que seria usada por Linduarte Noronha para a produção do documentário Mangue. Acontece que a câmera foi “embargada” pelo fato de ser “comunista”. De produção russa, a câmera trouxe para Linduarte, que afirma ser avesso à política e religião, um ar de envolvimento com o comunismo (fortemente combatido na época) e assim ele foi impedido de continuar trabalhando na UFPB. Enfim, são 40 anos de uma câmera importante quebrada, sem uso e guardada nos porões da UFPB. Mas o filme de Lúcio tem problemas. Soa como algo feito às pressas, com pouca produção, câmera incerta, imagem de baixa qualidade e com uma edição bastante simples, envolvida por uma trilha sonora ao estilo “caso de polícia”. Lúcio teve mais cuidado visual em obras anteriores e me surpreendeu que seu trabalho mais recente tenha sido finalizado assim, faltando certa acuidade.
Enquanto isso, a família barretão segue em frente com seu projeto de fazer do cinema nacional uma grande novela das oito, minissérie ou coisa que o valha. O problema de Lula – O Filho do Brasil está longe de ser relacionado a um discurso panfletário (sim, é). O problema é sua estética de sempre, que você vê em todo lugar, que é envolto de um problema central: na tentativa de aproximar o brasileiro de Lula, faz dele apenas mais um no meio da multidão. Não há nada de especial, no filme, que justifique as escolhas, as atitudes daquele que a obra pretende apresentar como alguém que mudou a nação. Tudo é “do nada”, “sem motivo”, e o passado doloroso que revelaria as escolhas do presente, no curso da projeção, é apenas mais um “passado doloroso”, mais uma forçada de barra. O retrato nada ideal do homem das frases prontas de efeito: um filme com cenas de efeito prontas.
A cobertura do Diversitá ao Fest Aruanda 2009 continua aqui e no Twitter.