Em tempos de Barack Obama, será comum afirmar que todas as novas histórias sobre negros no cinema serão um processo de “obamização” de Hollywood. O título nacional de “The Blind Side” (“Um Sonho Possível”) só revela que, se há algum oportunismo, ele alcançou a distribuidora nacional. Temos aqui um melodrama tipicamente familiar, sobre superação, aprendizado com “o diferente”, os clichês de sempre. Tão logo o filme se estabelece numa apresentação cativante com a narração de Sandra Bullock, o que veremos a seguir é uma busca constante por uma ética esperançosa perseguida por diálogos açucarados. Uma pena que o título original não tenha sido utilizado nestas terras: “o lado cego” é uma metáfora do futebol americano que revela, mesmo que de maneira um tanto óbvia, os “porquês” da relação entre a Leigh Anne (uma Sandra Bullock segura, mas não digna de um Oscar) e Michael Oher: nos infortúnios de sempre, tudo que se quer é alguém que, à sua maneira, nos proteja do que não podemos ver.
Publicada originalmente no guia Cenário Cultural, edição de março 2010.
Vou assitir.