As fórmulas e o coração de J. J. Abrams em “Super 8”

J.J. Abrams é um diretor de fórmulas. Ele já deixou isso claro em algumas de suas falas – sobre como ele admira a ideia de uma “caixa enigmática” e qual a força que isso pode ter numa história. Para Abrams, faz toda diferença saber guardar uma informação num enredo, para que tudo seja revelado na hora certa (“o mistério é o catalisador da imaginação”, diz ele). Aprendeu com Hitchcock, que sempre comentava: por que mostrar um ambiente inteiro, se podemos começar apenas com parte dele e, no momento certo, ter um plano-geral que revela algo extremamente importante?

Abrams nos diz ali, que é nos ensaios onde está a verdadeira vida do cinema – e captando tudo isso faz da metalinguagem do seu filme algo admirável.Toda dinâmica de Super 8 é baseada nessa premissa. Tudo que nos surge (a garota que Joe admira; um professor de ciências; um acidente e vários incidentes) tudo é sempre índice, pista, signo de algo maior por se revelar e tem hora certa para acontecer. E na carência de rever a sensatez do Shyamalan de A Vila ou Sinais nos últimos anos, é uma delícia ver isso na tela.

J.J. Abrams é um diretor de fórmulas, mas isso não é necessariamente negativo. O cinema é feito de fórmulas.

Super 8 é um filme que se declara como de gênero em sua totalidade. Sci-fi, Thriller ou Mistery para os americanos… Para os brasileiros existe uma relação emocional que poderia enquadra-lo facilmente na ideia de “gênero sessão da tarde”. A fita tem cheiro de infância, de nostalgia. Sensato o comentário do colega Chico: “Super 8 é um filme perdido no tempo. É retrô porque quer e porque somente poderia ser assim. Se fosse situado nos dias de hoje, essa aventura infanto-juvenil pediria tantos gadgets tecnológicos que a história ficaria em segundo plano”.

J.J. Abrams é um diretor de fórmulas, mas ele tem coração. Está lá o mesmo conflito entre pai, filho e a separação/perda da figura materna no seio familiar. A paixão pelo mistério, a curiosidade e a descoberta do mundo: o cinema. Elle Fanning sendo maquiada por Joel Courtney é de suspirar, com tanta doçura saindo da tela. Segundos depois é a mesma Fanning que nos tira todo o fôlego (nós, testemunhas da poltrona e a turma do Joe) simplesmente ensaiando sua fala e experimentando atender o pedido do adolescente diretor (alter-ego?): chorar em cena. Abrams nos diz ali, nas entrelinhas, que é nos ensaios onde está a verdadeira vida do cinema – e captando tudo isso faz da metalinguagem do seu filme algo admirável.

Se J.J. Abrams é o diretor das fórmulas de sucesso de Lost, Alias e Star Trek, é com Super 8 que ele chega à plenitude de unir mistério, ação, fascínio, nostalgia e paixão pelo cinema num único filme. Ele referencia Spielberg, Joon-ho Bong, o cinema dos anos 80, mas também se autoreferencia (o pai se chama Jack e inesperadamente tem que gerenciar a crise de um grande grupo?) para mostrar o quanto acredita em seu projeto autoral.

É com aquela antológica cena final, do colar (exalando “redenção” pela película), que chegamos à conclusão, sem medo: J.J. Abrams não é um diretor de fórmulas, mas um diretor de cinema.

4 Replies to “As fórmulas e o coração de J. J. Abrams em “Super 8””

  1. Eu devia entrar mais pra ler teu blog cara, infelizmente acho que sou falhado e não tenho costume, acredito que valeria mais a pena que ler outros que leio por ai.

    Vou só frizar uma coisa que voce nao comentou: a cena inicial da batida do trem está entre uma das melhores que ja vi

  2. Não deu pra saber se você gostou ou não na primeira leitura, mas pelo menos as caixas de Abrams não têm enigimas de cereal como as de Shyamalan. Deve ter um Cazuza perdido lá na Índia que escreveu algum verso sobre "segredos de liquidificador" numa canção de ninar que a mãe dele cantava pra fazer ele dormir e essas metáforas ficaram no subconsciente dele.

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