Fenart 2008 – Laso (quarta) BossaCucaNova (quinta)

preciso de pernas novas

Apesar de conhecer somente o longíquo primeiro CD da banda, pirei no show. Música pra dançar cantando junto. E como eles tocam! E como ela canta! Como canta! No bis rolou simplesmente “Minha Menina” de Jorge Ben, a partir do arranjo dos Mutantes. Nueeessa…

“carta” a uma amiga que dança

Fla,

Ver a Laso realmente não foi fácil. Como você disse, talvez se tivéssemos assistido ao espetáculo Relações a coisa teria sido um pouco menos complexa. Faltou um programa também. A dança contemporânea por tantas vezes pode ser esse quadro abstrato que a gente não consegue decifrar. A verdade é que tantas vezes os espetáculos não são feitos para isso. Na maioria das vezes. Mesmo que eu ache que Caminhos, da Laso, é muito mais cubista do que um abstrato-livre. Por algumas vezes lembrei-me daquele espetáculo que assistimos anos atrás no Santa Roza. Aquele que era só um casal, num cenário belíssimo em azul, baseado numa obra do Machado de Assis. Não no cubismo ou porque um lembra outro…mas de como foi difícil a recepção.

Essa coisa de ser cubista me veio somente hoje. Pensei nisso porque me parece que a dança deles funciona quase assim, como um quadro de Picasso. Quando pensamos que estamos decifrando o signo, é quando ele se desmonta no próximo traço, no detalhe logo ao lado. Andei lendo a minúscula descrição que tem no site deles e coisa foi se montando na minha cabeça. Construção, descontrução. Essas duas palavras estão presentes na dança contemporânea já há algum tempo e a Laso parece ter buscado isso de forma específica em Caminhos. Foi interessante então descobrir que Carlos Laerte, o diretor, tem formação em cinema. Percebi que não era à toa minhas impressões sobre aquele madeirite cortado no meio em formato “wide”, onde as bailarinas apareciam, saiam e entravam, e que me lembrava o “quadro”, o “plano” de cinema e, ao mesmo tempo, daquela pintura que Shiko elaborava lá trás. Claramente, vi que não foi colocado de qualquer jeito o mesmo madeirite sobre o quadro do pintor ao final. Tudo é um breve retrato da realidade, de como a gente vive, desvive, se constrói e se desconstroi nas relações, nos toques, na gravidade que vive nos quebrando ou nos suspendendo, nos empurrando contra as paredes, nos colocando dentro de caixas, em baixo das mesas que vão diminuindo, ampliando, sumindo.

Pra terminar, achei um belo texto comentando o espetáculo. Nada oficial, achei num blog. Fica com ele:

Assistimos ao espetáculo “Caminhos” da Laso CIA que nos mostrou, através da mais vasta combinação de expressões de arte, que existem caminhos sinuosos dentro de nós mesmos e os caminhos alheios os quais julgamos melhores e mais corretos. Mas os “Caminhos” da Laso CIA nos levam pelos estreitos becos das ruas que ainda não conhecemos ou os que já conhecemos até demais: as pessoas frias presas em sua solidão e em seus medos e as noites e dias quando vamos e chegamos, sem ter o menor motivo para irmos ou voltarmos.

Mas a verdade é que o essencial da vida é mesmo refratário às novas tentativas de pensamentos e não há outra forma de traduzir o mundo que pulsa nas ruas, nas mesas dos bares, nos passageiros dos ônibus e vans e nas interações sutis, além da linguagem simbólica da arte que a Laso CIA conseguiu com este espetáculo, que nos dá vontade de subir na mesa e tentar trilhar esses “Caminhos” juntos, e não separados.

Tudo isso embalado pelo movimento, pela música, sons, luzes, sombras, objetos cenográficos e pela arte da pintura na qual o artista trabalhava em tempo real.

Um abraço, grande amiga!

Ricardo Oliveira

fotos de Guto Zafalan

2 Replies to “Fenart 2008 – Laso (quarta) BossaCucaNova (quinta)”

  1. Tudodebom! A Bossa de uma Cuca Nova foi realmente muito bom, não conhecia a banda, não conhecia Cris Delano (que heresia falo hoje), mas adorei tudo.

    Sobre “Caminhos”, eu gostei do espetáculo, não é realmente de fácil decifração, e como você disse: quando se começa a decifrar algo vem outra coisa e nos arrasta. Tirando o momento final, com música de propósito colocada para se juntar a revelação do quadro que emociona, gostie muito do momento da mesa “voadora” ao som de Cássia Eller, realmente me emocionei nessa parte, ainda mais com a dança da garrafa de água (risos).

  2. esse show foi tão lindo ;~
    to emocionada até agora, tudo perfeito, voz, instrumentos, performance. tudo
    pra dançar mesmo, pra cantar e ser feliz.
    é hoje to sentimental, culpa da nossa cuca nova bossa ;)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *