O escritor é um usurpador de artista. Ao observarmos uma bela escultura, pintura, ou uma música de extremo bom gosto, a beleza oriunda da obra nos salta aos olhos e ouvidos. Embriaga nossos sentidos!
Os livros não. A beleza sensorial nesses pobres coitados, é atribuída a outras expressões artísticas. Mesmo quando é interessante à visão, subentende-se que o exemplar recebeu um cuidadoso acabamento. Ou seja, esse amontoado de letras mascarou em sua suposta aparência, o belo que pertence aos pintores e, no termo mais moderninho, designers gráficos.
Quem se “limita” a dominar normas da língua culta, há de convir que dominar parafernalhas como Photoshop é maestria artística a níveis sobrenaturais.
O que resta a esses tão feiosos elementos que os encaixem na categoria de arte? Os leitores é claro! O maior trabalho na arte chamada literatura está não em quem a produz, mas naqueles que a apreciam. Ao se deparar com um belo exemplar de Monet (vale réplica), você não precisa muito trabalho além de se aproximar do quadro e perceber a virtuosidade do mestre impressionista. Traços de vai-e-vem que se rendem à tela para encher nossos olhos com as cores das belas tardes e jardins retratados pelos pincéis.
Já não há a mesma relação entre leitores e livros. Excluindo os infantis, como os do Ziraldo, a maioria deles é um punhado de frases cortadas por vírgulas e caladas por pontos finais.
O apreciador da literatura tem que achar numa imensidão de nada, algo em que encontre algum sentido, que lhe de motivos de ir até o final. Diferente de uma música, o livro necessita de um artífice maior. Alguém que busque em suas experiências do dia-a-dia, nos sons que já ouviu, nos cheiros passados, naquele machucado que doeu, coisas que acrescentem o elemento sensorial à sua experiência.
Isso de forma nenhuma, isenta o escritor de tornar o seu trabalho extremamente complicado. Ele tem sob sua responsabilidade, descrever tudo com habilidade, sem pecar nas palavras, sem torná-las irritantes ao ponto de o leitor simplesmente colocar seu exemplar junto àquela caixa de coisas velhas que todos têm. Não desmereço nenhuma representação, mas o escritor é um trabalhador árduo com pouca habilidade.
Thiago Bomfim é um mineiro estudante de letras que mora em São Paulo e vive com um iPod tocando Jars of Clay. Adora uma música caipira e se pudesse, voltava pro interior pra passar a vida lendo seus livros.