{"id":1946,"date":"2009-01-26T13:53:39","date_gmt":"2009-01-26T16:53:39","guid":{"rendered":"https:\/\/diversita.com.br\/?p=1946"},"modified":"2009-01-26T13:53:39","modified_gmt":"2009-01-26T16:53:39","slug":"entrevista-com-david-fincher-na-folha-ilustrada","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/diversita.com.br\/2009\/01\/26\/entrevista-com-david-fincher-na-folha-ilustrada\/","title":{"rendered":"Entrevista com David Fincher na Folha Ilustrada"},"content":{"rendered":"

Por Leonardo Cruz<\/p>\n

O norte-americano David Fincher vive o momento de maior reconhecimento de seu trabalho. Seu s\u00e9timo longa, “O Curioso Caso de Benjamin Button”, recebeu \u00f3timas cr\u00edticas na imprensa, faz sucesso de p\u00fablico e, na quinta, obteve 13 indica\u00e7\u00f5es ao Oscar, incluindo melhor filme e diretor, a primeira desse cineasta de 46 anos.<\/p>\n

No filme, em cartaz no Brasil, Brad Pitt interpreta o homem de rel\u00f3gio biol\u00f3gico invertido, que nasce velho e vai remo\u00e7ando. Em sua trajet\u00f3ria est\u00e1 Daisy (Cate Blanchett), a mulher que ama. Entre os dois est\u00e1 o tempo, que os separa e os une ao longo de cerca de 80 anos.<\/p>\n

A passagem do tempo \u00e9 um tema caro a Fincher, j\u00e1 explorado em seu filme anterior, o \u00f3timo “Zod\u00edaco”, longa narrativa policial sobre um homem obcecado que dedica anos a perseguir um serial killer. Em “Button”, como o pr\u00f3prio diretor diz, o que est\u00e1 em quest\u00e3o \u00e9 a passagem da vida, o que experimentamos e o que perdemos. Na \u00faltima ter\u00e7a-feira, dois dias antes do an\u00fancio dos indicados ao Oscar, Fincher conversou com a Folha por telefone, de Berlim, onde estava para divulgar “Benjamin Button”.<\/p>\n

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FOLHA – Posso definir seu filme como uma hist\u00f3ria de amor assombrada pela morte?<\/strong><\/p>\n

DAVID FINCHER – Sim, sem d\u00favida. O filme n\u00e3o foge da linha das grandes hist\u00f3rias de amor de Hollywood. A diferen\u00e7a \u00e9 que em “Benjamin Button” o vil\u00e3o que manter\u00e1 o casal separado \u00e9 o tempo. E com o tempo vem a imin\u00eancia da morte.<\/p>\n

FOLHA – E isso o atraiu ao projeto?<\/strong>
\nFINCHER – Adoro a ideia de uma hist\u00f3ria de amor que rompe com a tradi\u00e7\u00e3o do amor juvenil imposs\u00edvel. Eric [Roth, o roteirista] desenvolveu uma no\u00e7\u00e3o muito mais madura de romance, sobre essas duas pessoas que n\u00e3o conseguiriam viver separadas, mas que passam grande parte de suas vidas afastadas. Sobre um casal que optou por estar junto, e n\u00e3o era a escolha mais f\u00e1cil. E a decis\u00e3o de Daisy de estar l\u00e1, com ele e para ele, em seus momentos finais, \u00e9 uma imagem bel\u00edssima, que resume essa rela\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

FOLHA – A quest\u00e3o do tempo j\u00e1 era central em “Zod\u00edaco”. Como voc\u00ea relaciona os dois filmes?<\/strong>
\nFINCHER – S\u00e3o estilos diferentes, mas “Zod\u00edaco” j\u00e1 tinha elementos do que exploramos em “Button”. Naquele filme, h\u00e1 um jogo com a plateia, com as no\u00e7\u00f5es preconcebidas do que \u00e9 uma investiga\u00e7\u00e3o policial. A hist\u00f3ria vai se abrindo aos poucos, o tempo da investiga\u00e7\u00e3o vai passando, se esgotando, e voc\u00ea percebe que n\u00e3o \u00e9 um daqueles thrillers convencionais. Nesse sentido, este novo filme \u00e9 parecido, e esse rel\u00f3gio que nunca para \u00e9, em “Benjamin Button”, a passagem da vida.<\/p>\n

FOLHA – Ambos t\u00eam certa tristeza.<\/strong>
\nFINCHER – N\u00e3o acho que “Benjamin Button” seja um filme triste. \u00c9 um filme sobre as rela\u00e7\u00f5es que experimentamos ao longo da vida, confrontadas com a perda dessas rela\u00e7\u00f5es. Sobre as marcas que deixamos uns nos outros quando nos encontramos pelo caminho. Sobre dor, alegria, amor e remorso.<\/p>\n

FOLHA – No filme, Button nasce fisicamente velho, mas mentalmente crian\u00e7a. Esse contraste refor\u00e7a a solid\u00e3o do personagem?<\/strong>
\nFINCHER – O filme apresenta para a plateia o que, a princ\u00edpio, \u00e9 o melhor dos mundos: amadurecer mentalmente e ganhar vigor f\u00edsico ao mesmo tempo. Mas, conforme o filme avan\u00e7a, fica claro que o que parecia o melhor dos mundos \u00e9 uma vida quase t\u00e3o complicada quanto a de uma pessoa comum. Enquanto muitos filmes mostram um homem comum vivendo hist\u00f3rias extraordin\u00e1rias, este \u00e9 sobre um homem extraordin\u00e1rio vivendo hist\u00f3rias comuns.<\/p>\n

FOLHA – Este foi seu terceiro filme com Brad Pitt. Recentemente, voc\u00ea o comparou a Paul Newman. Pitt \u00e9 subavaliado como ator, h\u00e1 um interesse maior por sua vida privada?<\/strong>
\nFINCHER – Acredito que, apesar das muitas capas de tabloide sobre sua vida pessoal, Brad consegue fazer um bom trabalho. H\u00e1 essa histeria sobre tudo o que envolve ele e a Angelina [Jolie]. Mas isso n\u00e3o interfere no fato de que ele \u00e9 um bom ator e um grande colaborador. E muitos diretores partilham dessa vis\u00e3o, de que Brad consegue dar ao personagem aquilo que voc\u00ea planejou. Espero que, quando a histeria passar, mais pessoas percebam isso.<\/p>\n

FOLHA – Seu filme usa muitos efeitos especiais, especialmente para fazer o rejuvenescimento de Button, mas sempre de forma sutil, para refor\u00e7ar o realismo. Isso contrasta com os investimentos atuais de Hollywood em cinema 3D, com efeitos espetaculosos. Qual sua opini\u00e3o sobre essa tecnologia?<\/strong>
\nFINCHER – Hollywood est\u00e1 buscando alternativas para continuar a atrair plateias para o cinema e, mais do que isso, para defender seus direitos autorais. A partir do momento em que, como no 3D, s\u00e3o necess\u00e1rios dois projetores de cinema para conseguir assistir a um filme, isso deixa de ser algo que algu\u00e9m possa baixar na internet. Numa \u00e9poca em que h\u00e1 ofertas de filmes at\u00e9 para celulares (e n\u00e3o sou David Lynch para achar isso bom), o 3D \u00e9 uma tentativa de preservar esse ritual pag\u00e3o coletivo de ver um filme em uma sala de cinema, para que nos lembremos que n\u00e3o vivemos sozinhos. Mas n\u00e3o acho que todo filme tenha de ser em 3D nem colorido nem em som est\u00e9reo. Tudo depende da ferramenta necess\u00e1ria para contar cada hist\u00f3ria.<\/p>\n

FOLHA – J\u00e1 que voc\u00ea citou Lynch, quais s\u00e3o seus diretores favoritos?<\/strong>
\nFINCHER – N\u00e3o tenho tido tempo para ver todos os filmes que gostaria, ent\u00e3o estou sempre curioso para ver os filmes dos amigos. Estou ansioso pelo “Avatar”, de James Cameron.<\/p>\n

FOLHA – E quais os filmes que despertaram seu interesse por cinema?<\/strong>
\nFINCHER – Eu era muito influenciado pelo meu pai, que era cin\u00e9filo. Cresci vendo com ele os cl\u00e1ssicos americanos. Numa semana, v\u00edamos “Cantando na Chuva”. Na outra, “Janela Indiscreta”. Na outra, “2001, uma Odisseia no Espa\u00e7o”. Sempre no cinema, numa \u00e9poca pr\u00e9-v\u00eddeo-cassete. E depois essa forma\u00e7\u00e3o se completou na universidade, em cineclubes.<\/p>\n

FOLHA – As indica\u00e7\u00f5es ao Oscar saem na pr\u00f3xima quinta e…<\/strong>
\nFINCHER – Na quinta?! Voc\u00ea est\u00e1 mais informado do que eu.<\/p>\n

FOLHA – Mas seu filme deve ter indica\u00e7\u00f5es. Qual sua expectativa?<\/strong>
\nFINCHER – Nenhuma. S\u00f3 quero continuar a fazer cinema.<\/p>\n

FOLHA – Mas pr\u00eamios como o Oscar n\u00e3o s\u00e3o importantes a um filme?<\/strong>
\nFINCHER – Esses pr\u00eamios s\u00e3o importantes para pessoas que gostam de medir e comparar coisas. Para mim \u00e9 muito dif\u00edcil levar a s\u00e9rio a ideia de comparar quais os m\u00e9ritos de cada filme, de g\u00eaneros e propostas totalmente diferentes. \u00c9 poss\u00edvel comparar uma pintura realista com uma impressionista?<\/p>\n

FOLHA – Quais s\u00e3o seus pr\u00f3ximos planos? Filmes futuros?<\/strong>
\nFINCHER – Estou cansado. “Button” e “Zod\u00edaco” me tomaram quase sete anos. Quero dormir nos pr\u00f3ximos quatro meses.<\/p>\n

(entrevista publicada na vers\u00e3o impressa da Ilustrada deste domingo, 25\/1)<\/em><\/p>\n


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via “Ilustrada no Cinema”<\/strong><\/a><\/span><\/em><\/p>\n

Obs.: Neste fim de semana sair\u00e1 minha cr\u00edtica sobre o filme no “Guia Cen\u00e1rio Cultural”. Assim que for publicada, trarei aqui para o blog tamb\u00e9m.<\/p>\n

Ricardo Oliveira
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