Tudo que um fã de cinema precisa quando um diretor legal está fazendo um filme que chama atenção, é de um blog. Fernando Meirelles tem um e escreve muito bem, com muito cuidado ao texto. Está dirigindo Blindness, adaptação do livro de José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira. Ainda não o li, porém, sei que conta a história de uma cidade que vive uma epidemia de cegueira.
Até então, pra mim, a curiosidade bastava por ser um diretor brasileiro, dirigindo uma história portuguesa que será filmada no Canadá, Uruguai e Brasil; além, claro, de contar com Mark Rufallo (ator que gosto muito), Julianne Moore e Alice Braga (de Cidade Baixa), entre outros bastante famosos.
Mas, um click faltava para compreender melhor o contexto: o cara teve que imergir num novo modo de tratar os atores em cena; sim, porque se é uma epidemia de cegueira, todas as cenas são cheias de cegos. Me deparei com um texto lindo sobre como essa preparação vem acontecendo (e já funcionando) e trago aqui um trechinho pra os cinéfilos se deliciarem também. Para conferir o texto inteiro, clique aqui.
Falo em figurantes pois neste filme eles não são apenas gente que cruza o quadro imitando o movimento das ruas. Aqui estão todos cegos. Todo mundo tem que atuar e esse pequeno detalhe foi o motivo que quase me tirou deste filme quando pensei em dirigi-lo. Cada vez que imaginava uma cidade ocupada só por cegos a imagem que me vinha era a de uma população caminhando pelas ruas com os braços estendidos como num filme B, ou Z, de Zumbi. Socorro, pensava. Mas sei que cegos não andam assim, então a primeira providência foi chamar o Chris Duvenport, preparador de atores, e convidá-lo para me ajudar a evitar que este Ensaio Sobre a Cegueira virasse um remake da Volta dos Mortos Vivos.
De cara, o Chris aceitou o convite. Chamou sua assistente, colocou uma venda preta nos olhos e foi andar pelo Ibirapuera. Se animou com a sensação e resolveu correr, até encontrar uma árvore. A experiência é uma forma de aprendizado e ele aprendeu com a cabeçada ou com o galo que havia outro caminho para fazer este trabalho: começou então com um grupo bem pequeno de atores numa sala. Todos vendados, foram convidados a explorar o local por horas a fio. No começo andavam animados, usavam as mãos, encontravam os obstáculos que eram colocados no caminho, disputavam um biscoito. Mas depois veio o tédio, algumas sensações estranhas, depressão às vezes, paz para alguns. Essas oficinas foram evoluindo. Aos poucos, o Chris foi aumentando o número de participantes e passou a levá-los para espaços maiores ou para passeios ao ar livre.Em maio, ele organizou uma destas oficinas para a equipe do filme. Aprendi muito sobre som nas horas em que fiquei cego e decidi que vamos ser muito experimentais em nossa mixagem. Percebi também como a percepção do espaço é fragmentada e precária quando se usa apenas as mãos para entendê-lo, então decidi simplesmente abolir a geografia neste filme. Quem tentar entender qual corredor leva a qual parte do asilo vai perder seu tempo. Rodamos cada cena como nos dava na telha, sem nos preocupar se o ator deveria sair pela direita ou pela esquerda, na esperança de dar ao espectador um pouco da desorientação que a experiência da oficina me trouxe. Reflexos o tempo todo, imagens abstratas, mal enquadradas, desfocadas ou superexpostas completarão a receita da desconstrução do espaço (ou da visão?) neste filme. Tomara que funcione, agora é tarde para recuar.
[Fernando Meirelles – Blindness]
Ricardo Oliveira
nossa, lendo texto até me empolguei, caraca, vai ser sinistro mesmo, ainda mais pelo ótimo diretor que ele é, tem que ser bom de algum jeito será.
wow quanta coisa boa num lugar só…Para ser bem sicera…não acompanho o trabalho do Fernando Meireles,puro preconceito contra os brasileiros, alías, não acompanho o trabalho de diretor algum ……mas lembro-me de ter me apaixonado pelo filme “O Jardineiro Fiel”, dirigido por ele, simplesmente ótimo fiquei até orgulhosa do que ele fez…e esse Blindness, wow só espero poder ler o livro antes…hehehe tô mto curiosa!!!
Estou numa expectativa muito grande por este filme, não pelo diretor Fernando Meirelles. Mas sim pela história do livro. Uma coisa eu digo: “Ensaio sobre a cegueira” é um dos melhores que já li na minha vida. Principalmente pela maneira como José Saramago escreve!