Cinema: entre lendas e gângsters


A VIDA DOS OUTROS
de Florian Henckel von Donnersmarck

A beleza desta obra alemã infelizmente fica retida até certa parte do filme. Seu final deve ter sido a razão da conquista de um Oscar de melhor filme estrangeiro: infelizmente cai no bonitinho quase piegas que parece ter sido distante durante toda a outra parte do filme. É extremamente cativante observar a transformação do espião Wiesler em um vouyer da vida de outros que parecem mais felizes e isso se deve muito a excelente atuação de Ulrich Mühe, que infelizmente faleceu no ano passado. Tudo se passa na Alemanha socialista (pré-queda do muro de Berlim), contando a história deste espião que investiga um escritor e sua mulher, que uma atriz bonita e quase famosa.


EU SOU A LENDA
de Francis Lawrence

É no mínimo interessante notar a investida num cinema de ação com pouca música na maior parte do tempo. A soundtrackmania hollywoodiana seria uma primeira especulação antes de assistir ao filme e felizmente não é isso que encontramos, mesmo com pouquissímos diálogos. Logo, toda a contextualização da situação na primeira etapa do filme traz uma responsabilidade bem maior para as escolhas de Lawrence e as atuações de Smith e da cadela Samantha (incrivelmente bem treinada). O cuidado com os detalhes da nova ‘vida’ que o Dr. Robert Neville (Smith) leva é aquilo que faz de hollywood o “grande cinema” mundial. E toda essa ambientação contribui para que as cenas-chave como o resgate da cadela no prédio às escuras não se tornem vazias.

Evidente que a parte final decresce por razões que só o o roteirista e produtores explicarão. Não é possível compreender o porquê de não investir em alguns minutos a mais para explicar melhor o aparecimento de Anna e os desdobramentos. A personagem interpretada pela brazuca Alice Braga (surpresa para mim) surge e traz diversas consequências para a narrativa que mereciam um cuidado maior. O que temos, de repente, é o tratamento de questões espirituais numa linha shayamalaniana, porém, longe da mesma elegância que encontramos em Sinais, por exemplo. Tais questões, entretanto, não deixam de ser relevantes para espectadores ou ao próprio cinema: até que ponto a arte ainda tem a função de despertar reflexões a respeito da vida atual? E esta é a razão do filme estar como destaque desse mês no blog. Além do mais, já falei aqui que sou louco por filmes apocalípticos. Logo, espero ansiosamente pela próxima aparição de Alice Braga nas telonas gringas: em Blindness de Fernando Meirelles, ela fará a prostituta que também fica cega.


OS DONOS DA NOITE
de James Gray

Pena não poder escrever sobre ele antes de uma revisão. Temos aqui a parábola do filho pródigo parafraseada para o mundo das guerras entre traficantes e policiais nos anos 80. Bobby Green (um Joaquim Phoenix brilhante) é o gerente de uma grande boate onde rolam as grandes festas e drogas de Nova Iorque. Ao mesmo tempo, é filho do chefe da polícia que deseja que ele seja seu informante no combate ao narcotráfico. A fala do pai parece ser setença definitiva a Bobby: uma hora você terá de decidir entre estar do nosso lado ou do lado deles.

A precisão com que James Gray trata das escolhas de Bobby é de uma delicadeza pouco vista no cinema americano. Não espere encontrar câmeras nervosas ou extremismos desnecessários na narrativa. Se Gray decide nos mostrar lágrimas ou violência, o fará porque sabe muito bem como dirigir permitindo que os personagens respirem – afinal, o roteiro também é dele, o que é um raridade nos tempos de hoje. Sem dúvida será chamado de cansativo por alguns, mesmo não se tratando de um filme longo. O que ele tem, na verdade, são cenas antológicas como a perseguição de carros. Por fim, precisa ficar claro que falamos de uma obra-prima dos dramas familiares num nível bastante próximo ao de O Poderoso Chefão.


O GÂNGSTER
de Ridley Scott

Há uma clara melhora de Scott quando observamos as direções que ele decide tomar para contextualizar a história e seus personagens. Tanto o de Russel Crowe (um policial honesto) como o de Denzel Washington (um ex-guarda-costas de chefão do tráfico, agora responsável pelos negócios do seu patrão falecido) nos são apresentados como homens buscando ascensão, porém, enfrentando dilemas diretos com os que estão mais próximos deles. Entretanto, isso não é suficiente. O que temos é um filme amarrado a uma narrativa lenta em excesso já que não vemos grandes diálogos, mas apenas um diretor querendo contar uma história real do jeito mais dramático e pseudo-extremo possível. Uma câmera que pouco significa e uma série de tentativas de construir sentido que vão pouco além de clichês pobres. Se há algum mérito é na ótima atuação de Crowe, enquanto que Denzel fica para trás desta vez.

Ricardo Oliveira

2 Replies to “Cinema: entre lendas e gângsters”

  1. oi Ricardo,
    vou postar teu blog
    entre os meus favoritos,
    coisa q deveria ter feito
    de há muito.
    Vou ver o Gângster
    pra depois comentar melhor
    aqui.
    Vi a lenda,
    gostei com restrições.
    abraço
    astier

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