A construção em abismo de “Oito e Meio”

Guido (Marcelo Mastroiani)...ou Fellini?

,

,

O filme que estampa a página do Plantão Cinefilia neste blog não está ali por acaso. “Oito e Meio” de Federico Fellini é uma das mais belas obras que o cinema produziu.

Trata-se de um filme cuja afirmação maior é: para um cinema realmente humano, coloque toda sua humanidade na tela. Ali está todo Fellini, junto a todas as suas mulheres, seus algozes, suas feridas e também suas virtudes – especialmente elas, para o olhar atento.

Guido (foto) não faz filmes de amor porque não consegue – como afirma às meninas em certo trecho. E por não conseguir, filma a si mesmo, suas dúvidas e dramas. Guido pretende filmar seus sonhos e desencantos e assim perturba os produtores. Quem pode saciar os anseios megalomaníacos de Guido? Quem pôde saciar as maluquices encantadoras de Fellini?

Não falamos apenas de um filme dentro do filme, como  senso comum afirmaria sobre sua metalinguagem. Pensemos em algo maior, trabalhado por Christian Metz: construção em abismo, vertigem. Como Jorge Luis Borges, Fellini parece, intecionalmente, nos confundir com uma diegese que se mistura inevitavelmente com suas intenções e nos deixa tontos de propósito. Isto porque, muito além de não avisar quando as sequências oníricas começam, Fellini brinca com a mais curiosa da possibilidades: o filme que Guido pretende dirigir já não seria este que assistimos na tela?

Por todo a fita Marcelo Mastroiani e seu Guido usam um chapéu que nunca está ajustado perfeitamente. A medida italiana para a cabeça do personagem é 8 1/2. Eis a chave: assim como o acessório não cabe em Guido, Fellini nunca se adequou ao cinema – por isso, inventou seu jeito de fazer. E como fez bem feito.

.

.

Extras:

– Trailer original

,

RICARDO OLIVEIRA

5 Replies to “A construção em abismo de “Oito e Meio””

  1. Não tive certeza se o que vc chamou de "chave" serve tb para significar o título do filme. Se sim, digo que sempre acreditei na informação contida no "Adoro Cinema", que explica assim a escolha do título:

    "Oito e Meio é uma referência à carreira do próprio Federico Fellini, que até então já havia dirigido 6 longa-metragens, 2 episódios de filme e havia co-dirigido um longa-metragem. Fellini certa vez declarou que escolhera o título Oito e Meio logo no início de sua produção e, como não pensou em um nome melhor posteriormente, terminou por mantê-lo."

  2. Eu não confio muito nessa história, sabe Joel? Pq no documentário que tem nos extras do DVD de 8 1/2 o próprio Fellini fala sobre essa história de medida de chapéu. Ele diz que os americanos, na época do lançamento, ficaram querendo produzir em série o modelo usado por Mastroiani. Então ele diz no doc: “A medida italiana é 8 1/2, o que nos EUA é algo como 40”.

    Mas…whatever about a razão, pq quando falei de “chave” não to falando da explicação do título…mas do conceito. =]

    abração

  3. Francamente, é um dos melhores filmes que eu já vi. Existem nele coisas como a sequência inicial, Guido no harém, ou a belíssima sequência final, com todas as pessoas juntas dançando.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *