O Lutador (Daren Aronofsky, 2008)

Ram e o garotoO jogo no Nintendo.

Randy “The Ram” está mais uma vez solitário em seu trailer, tentando se distrair com uma leitura – sem êxito. Coça o peito, que tem os curativos da cirurgia que fez e ouve o som de vozes infantis lá fora. Ele olha para o lado e vê seu velho videogame. Em seu ritmo descompansado e de respiração forte, a câmera o acompanha até a rua, onde crianças brincam. Ram chama um dos garotos para jogar Nintendo 8 Bits, um videogame que revolucionou tudo nos anos 80, mas que hoje é só nostalgia. Eles jogam um típico game de luta-livre. Um detalhe entretanto, chama atenção e ressoa com as imagens iniciais do filme: o sucesso de Ram foi tão grande 20 anos antes que fez dele um personagem de videogame famoso. Ram é especialista no jogo de tempos antigos e o garoto não havia nem nascido na época.

Como se não fosse o suficiente tudo isso para revelar o anacronismo entre os dois, o menino pergunta se ele já ouviu falar em Call of Duty 4. Ram não entende nem do que se trata. O garoto repete e Ram continua sem entender. “Call it Duty 4?” Até que o menino explica que se trata de um jogo de guerra, moderno. “As versões anteriores era na segunda guerra. Agora se passa no Iraque e você pode ser um marine ou SS britânico”. Ram vence a partida e o menino apenas diz: “cara…esse jogo é tão velho. Eu tenho que ir”. Ram sai para fazer um cooper e não aguenta mais do que poucos minutos, tendo de se escorar numa árvore de tão cansado. O Nintendo 8 bits é tudo que Ram também é: um ícone de outra época, cansado e prester a parar de funcionar a qualquer instante.

Este post faz parte da série “Teoria dos Objetos Inanimados”, baseada na premissa iniciada por Paul Auster em seu livro “Homem no Escuro”. Leia outras análises a partir da teoria.

Ricardo Oliveira

4 Replies to “O Lutador (Daren Aronofsky, 2008)”

  1. *-*
    Essa comparação foi perfeita demais, ai tá a essência do filme na minha opinião, essa foi uma das melhores e únicas cenas que gostei e você descreveu perfeitamente a idéia central do filme com suas palavras.
    muito bom!

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