Esparrela (Fernando Teixeira, 2009)

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“Como o ferro com o ferro se afia,
assim, o homem, ao seu amigo”

Fui convidado na última sexta-feira (17/04) para uma sessão especial de pré-estreia do monólogo Esparrela, de Fernando Teixeira. Ele mesmo o criou, dirigiu e atua no espetáculo, sendo a experiência de vê-lo em cena gratificante.

O texto nos presenteia com excelente quebra da linha de raciocínio que, ao mesmo tempo, funciona como descontrução e construção. Temos em cena um velho homem sem camisa, com calça amassada e sapato. Ele conta sobre estar comendo um pedaço de carne, quando de repente é surpreendido por alguém que o fita atentamente. Corre e se esconde numa caverna até que resolve voar para observar do alto a movimentação. É quando percebemos que há algo ali que nos levará a outra dimensão que, de todo modo, não será certa até que seja usada uma palavra: urubu. Fernando Teixeira é um abutre capturado por um homem que condiciona-o a dançar em cima de uma lata para ganhar dinheiro pelas cidades. Esparrela conta a curiosa história da relação entre dois seres, que não deixam de ser simultaneamente caçadores, passando a ser outra coisa no curso da história.

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Montado na pequena e nova sala do grupo Bigorna, nas dependências do Cilaio Ribeiro, o espetáculo é de proximidade. Passa pela cômico encantando a plateia com a doçura que Teixeira traz a um abutre, tal qual pelo trágico reiterando a força narrativa e poética do texto do autor. Esparrela, em toda sua originalidade, certamente já apresenta-se como atemporal e universal, mesmo que vez ou outra pontuada naturalmente por certa regionalidade. Não são, entretanto, marcas que impessam que a interpretação seja eficiente aqui ou noutros lugares. É sobre o humano, relações de uso, honra mútua e dependência que o espetáculo fala.

Em meio a um texto que é tão passível de ser permeado por clichês de algum desejo simbólico excessivo na pré-produção, Teixeira soube podar. Talvez ainda falte mais: algumas pouquíssimas falas ainda são permeadas por pretensão que interrompe sutilmente a imersão narrativa.

Esparrela é sobre certa independência que, na verdade, é construída na dependência e na relação com o outro. Sua crítica é sobre que tipo de relação é essa; se temos agido como abutres com os que nos cercam ou como seres que, nas construções do cotidiano interelacional, encontram os canais ideais para moldar-se e  reconstruir-se para o que há de vir. “Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo”, diria o sábio Salomão.

Ricardo Oliveira


[SERVIÇO]

Esparrela – texto, direção e atuação de Fernando Teixeira.
Estreia oficial dias 24 e 25 de abril, no Cilaio Ribeiro, sempre às 20h.
Ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00.
http://esparrela-esparrela.blogspot.com/

3 Replies to “Esparrela (Fernando Teixeira, 2009)”

  1. BOA NOITE, COMO FAÇO PARA ENTRAAR EM CONTATO COM FERNANDO TEIXEIRA.SOU ATOR E GOSTARIA MUITO DE UM DIA FAZER ESSE MONOLOGO. OBRIGADO

    1. Fernando integra o grupo bigorna.

      Através dos telefones abaixo pode tentar o contato. Sou professor e levei um grupo de alunos para assistir este maravilhoso e criativo espetáculo. Vale a Pena!

      83 8857 0622
      Telefone: 83 8857 0622

      Manoel Jr (manoeljr100@gmail.com)

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