[Cinema] Crítica de “Coração Vagabundo”, por Ricardo Oliveira

No início de Coração Vagabundo o jovem diretor Fernando Grostein Andrade consegue explicar tudo que vai propôr ao expectador nos próximos minutos. Seria um tanto óbvio se na cena não houvesse um detalhe que simboliza sua delicadeza e sensatez como autor: a câmera passeia por um quarto de hotel e sabemos que ela busca por Caetano Veloso, seu personagem. Temos um relance dele totalmente nu, ao banho. Não o vemos por inteiro, mas percebemos que está sem roupa alguma. O detalhe está não em exibir a “metáfora da nudez”, mas no relance desta mesma alegoria. É exatamente isso que o documentário de Grostein é: uma obra segura exibindo um Caetano despido, mas em parte – já que o nosso olhar, as falas do cantor, ou mesmo a limitação temporal do filme são, em conjunto, o impecilho natural para uma expectativa impossível: entendê-lo por inteiro. É assim que Grostein desenvolve seu processo ao estilo de Henry Cartier-Bresson: captar instantes raros, naturais e universais, tal qual a música do seu personagem.

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