Por mais óbvia que possa ser essa constatação para alguns, a verdade é que seu objetivo é mais ligado a valorizar as descobertas que hoje já nos surpreendem do que denunciar profecias falhas do passado. Até porque nem todas foram inválidas – pelo contrário. Fato é que nos parece que esta década, que já está por terminar (e, prestes a ser analisada, revelará caminhos interessantes) indicou algo vital: divagamos menos sobre o futuro e pensamos mais no presente. Se isto por um lado pode indicar a falência dos sonhos necessários a uma geração, será favorável à medida que nos preocupamos menos em imaginar e mais em realizar. Isso quer dizer que estamos menos distantes do 2037 de Minority Report – A Nova Lei do que imaginávamos, mas continuamos ainda distantes de Blade Runner (e se pensarmos em andróides, sinceramente não quero chegar lá).
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Tecnologias como o Projeto Natal da Microsoft para o console Xbox 360 e Sexto Sentido (vídeo acima), do MIT, nos fazem perceber que as projeções visionárias do passado já foram até mesmo ultrapassadas. Talvez a palavra ultrapassada, se separarmos seu sufixo e trouxermos outro sentido, seja um tanto exagerada, mas com o tempo acabará por ser sutil demais. Para alguns não é necessária a virtualidade para ultrapassar a Matrix. Você tanto pode ser o Usain Bolt ou um anônimo praticante de Le Parkour extremo. Para outros, todavia, a virtualidade cada vez mais corporal passa ser o caminho do entretenimento e, por que não, de práticas de edução física? E para isto, ainda não precisávamos do Projeto Natal.
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Com Sexto Sentido, desenvolvido por Pranav Mistry e supervisionado por Pattie Maes, será nossa dinâmica de relação com a informação que mudará ainda mais. Trata-se de um dispositivo que integra um aparelho celular smartphone ligado a internet, uma câmera e um mini-projetor. É certo que ele ainda não é uma ideia pronta para se usar. Falta-lhe mais praticidade e portabilidade, como já disse André Lemos. Entretanto, seu anúncio foi feito como algo em desenvolvimento e, pelo que já propõe, continua merecendo os aplausos de pé no TED. Sexto Sentido e Projeto Natal nos levam realmente tocar no ciberespaço. Isto, tanto numa esfera de espaços internos que podem ser grandes ou não (imagine jogar futebol online no console da Microsoft dentro de um grande salão com a imagem projetada numa parede inteira, ao invés da televisão). As possibilidades externas, por elas mesmas, já são mais amplas e perigosamente divertidas que as outras.
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“Agora pode-se estar sem efetivamente estar e não se trata mais de ler um ótimo livro ou ouvir uma boa música com noise reduction”Através de Sexto Sentido e noutro caminho, com Invizimals (vídeo acima) e sua realidade aumentada no PSP, o estar no meio da rua poderá significar outra coisa. Agora pode-se estar sem efetivamente estar e não se trata mais de ler um ótimo livro ou ouvir uma boa música com noise reduction. A criança que joga Invizimals pode estar numa praça, mas completamente dispersa do que lhe rodeia naquele instante. No jogo, através da pequena câmera acoplada ao PSP, o jogador pode andar pelos ambientes, procurando seu personagem no jogo via realidade aumentada. Ela agora tem suas batalhas ao estilo Pokémon, quase tocando em seus monstrinhos-herois, que podem ser interferidas pelas sombras e sopros dela ou mesmo da praça. Com Sexto Sentido, o céu à minha frente pode se transformar em papel de parede para um desktop no qual abro janelas para ver as fotos que acabo de registrar durante o passeio. A grama, a parede, a sombra, tudo pode ser espaço para o ciber que se tornará cada vez mais visivelmente-táctil e, ao mesmo tempo, invisível. Como já afirmado Levy e Manovich, usar a palavra cibercultura é anos 90 demais. Nós já esperamos que o computador esteja online ao ser ligado, assim como esperamos que a água saia do chuveiro ao acioná-lo – a falta disto é que faz falta.
Se temos essa incrível capacidade humanamente celestial de surpreender-nos com inovações que arrancam arrepios, vamos continuar dando trabalho para os roteiristas mais visionários de Hollywood. Não há mais Philip K. Dick ou Arthur C. Clark para guiá-los. Agora, é a própria realidade que pode assustar.
Fontes: Blog do Link / Carnet de Notes
Muito legal este artigo! cara as maquinas vão dominar o mundo.
Pois é, certas vezes eu tenho um pouco de medo dessa constante inovação inimaginável e em outros momentos eu me sinto deslocada por não conseguir acompanhar tudo que vem surgindo.
Mas acho que o seu artigo fala sobre uma coisa muito interessante, que é a vivência mais intensa e análise do atual.
Interssante unir este seu pensamento com a idéia do cardume de Nicolau.
Parabéns e abraços,