Apenas o Fim é obviamente um filme forçado. Ele quer ser bastante coisa. Inclusive, coisas que já foram feitas há bastante tempo. Ali temos as intermináveis discussões de relacionamento, permeadas por referências culturais infinitas, ao estilo Woody Allen em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. Há o fluxo da troca de sentimentos nesses caminhos, homenageando a caminhada de Ethan Hawke e Julie Delpy em Antes do Pôr-do-Sol de Richard Linklater. Há os longos planos-sequência mostrando certa futilidade da juventude (nos coadjuvantes), num jorrar de frases sobre o nada, como em Gus Van Sant. Um filme-de-referência, por assim dizer, que pouco ou quase nada apresenta de novo em propostas estéticas.
O que nos resta, portanto?
As referências não são nada gratuitas: quando não servem apenas para contextualizar, explanam sobre personalidadesA doçura, eu diria. Matheus Souza poderia fazer do seu filme o mar de referências que fosse (isso, porque nem citei Fellini e seu Oito e Meio), mas seria um fracasso total se não conseguisse transmitir verdade com seus personagens. E é inegável que pouco a pouco, durante a projeção, é isso que ele consegue. Se Érika Máder começa um tanto frágil como atriz, enquanto Gregório Duvivier já está bem à vontade, ao longo da caminhada ela entra no clima e nós vamos juntos.
Já somos cúmplices de um Tom desesperado por convencer seu amor a não deixá-lo. Chamá-la aqui de “seu amor” não é uma escolha qualquer. Em Apenas o Fim, Érika Máder não tem nome. Ela é a representação do mundo a dois de Tom, um estudante de cinema. Ela existe, mas, ao mesmo tempo, representa o ideal (assumidamente imperfeito, mas ideal) de Tom: alguém cuja vida pode ser contada num filme – daí a metalinguagem, ainda mais expressa noutros trechos que passam do ponto. Tom escreveu um roteiro sobre os dois, que ela acha tolo, assim como ele finge desprezar seu sonho do príncipe encantado pós-moderno (que ao invés de matar dragões, mal consegue chegar perto de ursos gigantes que soltam raios pelos olhos).
Apenas o Fim é também uma avalanche de referências à cultura pop, não apenas aos diretores amados por Souza. Além de nos levar a acreditar ainda mais na história dos dois (por identificação), as referências atestam o comportamento de parte da geração que cresceu nos anos 90. Gente que troca a balada por uma partida de videogame com os amigos – porque isso também pode ser balada. As tais referências não são nada gratuitas: quando não servem apenas para contextualizar, explanam sobre personalidades. Para Tom, comer no McDonald’s pode servir de metáfora para explicar seu relacionamento – símbolo vazio para niilistas; metáforas mais que comuns para uma geração fast-food.
Assistir ou ouvir entrevistas com o diretor Matheus Souza é atestar, sem medos, que o filme é uma grande autobiografia. Seria insensato afirmar, portanto, que por trás de certos exageros em “parecer algo” com seu filme, não há verdade. Souza obviamente se projeta em Tom – até no jeito de falar. Inevitável, portanto, não achar sinceridade na bela caminhada dos personagens de Apenas o Fim.
“príncipe encantado pós-moderno” essa foi ótima, então o Sem cor como sempre acaba nos influenciando sobre os filmes, principalmente como agora é o caso quando não se assiste o filme e vem ler suas críticas. Mas afinal de contas, vale ou não vale a pena assistir? rsrsrs Brincadeira, essa pergunta já fiz a ele e estou repetindo aqui pois, o mesmo sempre questiona porque que leio os textos e não comento. Pronto ta comentado amigo
Hasta Luego!
eu respondo por ricardo: vale a pena demais assistir, o filme é doce como ele mesmo disse, sem ou com muitas referências, é disso que ele trata, da doçura de lutar pra não se perder um amor. delícia de filme, delícia de resenha :)
É, a doçura é a grande sacada do Matheus, que faz com que um filme que poderia ser só referencias jogadas e frases de efeito, se torne algo além. Uma sintese do que jovens como o Tom sentem me relação ao amor, e como isso se desenrola, e que o fim de algo é só um fim, depois tudo continua.