Sérgio Roizenblit apresentou “O Milagre de Santa Luzia” em noite que teve até palhinha de Pinto do Acordeon
Das cinebiografias trazidas pelo Fest Aruanda (e este ano o pacote foi gordo: de Lula, Filho do Brasil, que abriu o festival na segunda, a Herbert de Perto, que fechará a programação, no sábado), O Milagre de Santa Luzia talvez seja a que escolheu filmar o personagem mais complexo. Tão popular quanto o nosso presidente, tão ou mais importante para a música brasileira quanto o líder dos Paralamas, o biografado em questão se valeu do prestígio e só concordou em se pronunciar na presença de figuras ilustres como Dominguinhos, Sivuca, Patativa do Assaré, Renato Borghetti e Toninho Ferragutti. Sua intimidade com estas personalidades era desconcertante e cada um que lhe conhecesse por um apelido: sanfona, oito baixos, fole, gaita, pé de bode… Também cada um que lhe cumprimentasse de uma maneira diferente: os nordestinos, manhosos; os sulistas, hiperativos. E tudo foi história para Sérgio Roizenblit (presente quarta-feira no festival), que com seu documentário nos apresentou a estrela da hora – não Marcélia Cartaxo, mais tarde homenageada pela organização do evento – mas o acordeão.
O instrumento entrou no Hotel Tambaú escoltado por Pinto do Acordeon, que o leva “encangado” até no nome. O músico deu uma palhinha na abertura da noite e foi responsável por uma das passagens mais marcantes do documentário, quando conta uma anedota envolvendo a música “New York, New York” (numa versão engrolada já conhecida do público através do vídeo de divulgação no Youtube). Outro mestre da sanfona, Dominguinhos, está para O Milagre de Santa Luzia como uma espécie de cicerone, conduzindo a equipe de filmagem por regiões em que o acordeão, mais do que atuar como expressão artística, inaugurou profusas e diversas tradições culturais. Reuni-las é o ponto forte da produção, que só vacila em sua passagem pelo Sudeste, onde poderia retratar melhor o mimetismo do instrumento às culturas dos imigrantes italianos, árabes e japoneses. A cultura dos “retirantes” já está devidamente representada pelo próprio Dominguinhos, que dá um tom emocional ao documentário nas duas vezes em que chora debruçado no fole da sanfona, ao se lembrar de quando deixou Pernambuco e migrou para São Paulo, em busca do Eldorado artístico.
De resto, O Milagre de Santa Luzia pode ser definido pelas mesmas palavras com que, em certo momento do longa, um dos produtores musicais entrevistados por Roizenblit identificam o som da sanfona: um misto carinhoso de dor, saudade e doçura, que certamente honra a memória de Luiz Gonzaga – o tal “milagre” que nasceu no dia de Santa Luzia, sagrou-se rei do baião, e não poderia deixar de ser homenageado pelo filme.
Dá-lhe Tiago Germano!
Sou fã desde criancinha… =)L
Só a homenagem a Sivuca e Patativa, me emocionou bastante.(filme) “Êta povo arretado de bom”. A matéria ficou FODA, parabéns grandes.