[Cinema] Confira a crítica de Tiago Germano sobre o documentário “Lóki – Arnaldo Baptista”

Fest Aruanda 2009

Arnaldo Baptista em "Lóki"

Quando eles voltaram em 2006, toda uma geração que não prestava muita atenção no que a mãe ouvia e tinha esquecido de ligar a MTV quando Kurt Cobain disse que a banda era “cool”, descobriu Os Mutantes.  Perguntas surgiram e o Google não soube responder: que espécie de mágoa Arnaldo Baptista sedimentou no coração de Rita Lee, que quase 40 anos depois do rompimento amoroso não aceitou retornar ao seu lugar no grupo e tachou os ex-colegas como um “bando de velhinhos tentando descolar grana para o geriatra”? Onde esteve Arnaldo Baptista desde sua frustrada tentativa de suicídio, quando se jogou da janela do quarto andar de uma clínica psiquiátrica depois de uma profunda crise depressiva? Afinal: quem era aquele homem, que carregava o legado do rock brasileiro nas costas e era unanimemente apontado pela crítica como um revolucionário?

Arnaldo Batista e sua esposa em "Lóki"Lóki – Arnaldo Baptista, filme exibido na segunda noite do Fest Aruanda e na sessão mobilizada do Box Cinemas da última quinta-feira, prometia as tão esperadas respostas àquelas questões. E se o documentário de Paulo Henrique Fontenelle não chega a resolvê-las satisfatoriamente, dá um grande passo ao pormenorizar a última: quem é Arnaldo Baptista? Lóki acerta logo de cara por apresentar o artista, sem tentar compreender a nudez de sua verdade (porque aqui a citação de Eça de Queirós se encaixa perfeitamente: a verdade de Arnaldo sempre esteve nua, apesar de escondida “sob o manto diáfano da fantasia”). Não há como não se fascinar pela sua figura, sempre num limiar de esplendor e abismo, oscilando dos estados mais banais e malucos aos mais trágicos e patéticos.

Quase melodramático

Verdade seja dita, Lóki beira o melodramático. Nesse sentido, ele tem um empurrãozinho do irmão e colega Sérgio Dias, que compara Arnaldo Baptista a Van Gogh (quando, como arte, sua pintura é uma boa terapia); de Lobão, que diz que “Lóki” é um disco “pungente, um dos melhores da MPB” (quando na verdade ele não é tudo isso, apesar do piano virtuoso);  e de Devendra Banhart, que diz que Os Mutantes são melhores que os Beatles (o que não vale ser comentado). Noves fora, é um grande filme que provavelmente mereceu todos os júris populares que conquistou em festivais, como a 32ª Mostra Internacional de São Paulo e o Festival do Rio.

Imerecida é a lacuna deixada por Rita Lee, que se recusou a dar depoimentos para o filme, concordando apenas em autorizar o uso de imagens de arquivo e de gravações das quais ela participou na época dos Mutantes. Rita priva o filme da sua versão de fatos controversos como a sua saída da banda e o fim de seu casamento com Arnaldo Baptista. Quanto ao primeiro, Lóki desmente uma versão do próprio Arnaldo, que por ocasião do seu retorno em 2006 afirmou em várias entrevistas que tinha “mandado a Rita embora” dos Mutantes. No documentário, tanto os irmãos Baptista quanto o baixista Liminha e o baterista Dinho Leme afirmam categoricamente que a decisão partiu de Rita, descontente com o rumo progressivo da música e com a instabilidade do matrimônio. Quanto a este fato, nenhuma versão consistente é dada nem por Arnaldo, que não esconde ainda um amor inescrutável por sua primeira esposa (a semelhança com a atual chega a ser constrangedora).

Canal Brasil

Lóki – Arnaldo Baptista é o primeiro longa-metragem produzido pelo Canal Brasil, um dos apoiadores do Fest Aruanda. O documentário foi lançado em DVD no final de novembro e tem também as participações (menos parciais…) de Nelson Motta, Tom Zé, Gilberto Gil e Sean Lennon. Para fãs dos Mutantes, de Arnaldo Baptista e de uma cinematografia recente que, a exemplo de Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, tem se empenhado em arranjar histórias cujo valor realmente justifiquem serem contadas nas telonas.

3 Replies to “[Cinema] Confira a crítica de Tiago Germano sobre o documentário “Lóki – Arnaldo Baptista””

  1. Critica fraquiiiiiiiiiinha,tambêm,hoje qualquer um faz critica,até do que não sabe o que esta falando.Concordo com o melodramatico,agora,não há duvidas que Loki é um dos,se não,o disco mais genial da musica brasileira justamente por sua franqueza sonora,e mutantes,não se compara com beatles,assim como beatles não se compara com mutantes,ambos estão no mesmo grau de genialidade,originalidade e assim por diante.
    Homenagem merecida para aquele que junto com Rauzito são os mestres do rocknroll nacional.

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