Recentemente voltei ao mundo de ter um videogame em casa. Havia deixado de lado a relação games + TV quando larguei um Playstation 2 e assumi a vida iOS com um iPod Touch. Além de inúmeras outras funções de acesso a web e produtividade, ele supriria boa parte da necessidade de “time killer” com seus jogos incríveis.
Cut The Rope, Tiny Wings e outros sucessos me deixaram empolgado, mas ver coisas como God of War 3 e o novo Mortal Kombat rodando em um Playstation 3 era uma mistura de nostalgia de joystick e a possibilidades de novas experiências de entretenimento. Eu mudei, os jogos mudaram radicalmente e o mercado também. Se vende mais jogos para adultos do que nunca, isso porque, como bem lembrou Alexandre Matias na sua coluna semanal no Estadão, temos hoje uma geração que interagiu com jogos eletrônicos por toda vida. Essa experiência de renovação então aconteceu e foi com Uncharted 3 – Drake’s Deception.
Lançado em novembro passado, o game está disponível apenas para PS3 e já tem prêmios na prateleira. A produtora Naughty Dog, que se estabeleceu como grande produtora justamente com os jogos anteriores da série, caprichou muito.
Não é Tomb Raider
O jogo traz gráficos de tirar o fôlego, envoltos por um roteiro que empolga e até emociona. A “experiência Uncharted 3” é completa: você está imerso num jogo que não usa mais os famosos “cinematics”. Ao invés de fazer pausar o enredo com os vídeos super produzidos intercalando a história, a Naughty Dog usa este novo padrão, que é aproveitar os incríveis gráficos do próprio motor do jogo para gerar cutscenes. A fluência é maravilhosa e permite um envolvimento bem maior. Ainda que não seja um mundo livre e aberto e exista um rumo linear, em Uncharted 3 existe essa sensação de que tudo pode ser explorado, já que tudo no cenário e nos personagens está perfeitamente detalhado.
“Drake e Lara se parecem pela arqueologia e o espírito de aventura, mas se diferem na sistemática do jogos. Uncharted 3 é um jogo bem mais adulto…”Numa das fases do jogo nós somos levados para um cemitério de navios para “passar” por um pequeno batalhão de piratas. Há muito tempo não tinha tantas sensações de tensão, aventura e suspense, junto a uma adrenalina constante, como aqui. Você deve pular por barcos, escalar ferragens, atirar muito e matar mais do que o Rambo, trocando de armas para inimigos e situações diferentes. Esse ritmo acompanha todo o jogo, junto a lutas corporais com movimentos no melhor estilo Batman Arkham Asylum.
Não joguei os títulos anteriores da série, mas de longe sempre tive a impressão de que Uncharted seria um Tomb Raider com protagonista masculino. Enganado, descubro que são universos e dinâmicas diferentes: Drake e Lara se parecem pela arqueologia e o espírito de aventura, mas se diferem na sistemática do jogos. Uncharted 3 é um jogo bem mais adulto, envolto a um nível de violência que não se recomenda para crianças.
Ainda que não seja um jogo perfeito (algumas vezes se sente certa repetição desnecessária de situações e personagens, além de algumas falas descartáveis), Uncharted 3 é um belíssimo game. A dublagem nacional ainda causa estranhamento em alguns gamers, mas foi interessante começar um jogo com vozes narrando e dialogando em português. Este sucesso da Naughty Dog na série de aventura só cria ainda mais curiosidade para o que pode vir por aí em The Last of Us, próximo jogo da desenvolvedora. O jogo ainda é um mistério, mas terá a ver com zumbis num mundo pós-apocaliptico. Imaginem se eles estão pensando em unir todas essas qualidades do mundo de Drake a zumbis em The Last of Us? É demais pra o coração de um gamer…
Publicado originalmente na coluna “Cultura Digital” do Jornal da Paraíba.