Ainda que fique perdido em certos padrões dos mais frágeis filmes de horror, Mama acerta com certa destreza quando se deixa levar por seu lado fabular.
É possível pensar em O Labirinto do Fauno, por razões óbvias (Del Toro produz o filme), mas também vem à memória A Dama na Água e até Vinil Verde, curta de Kléber Mendonça Filho (me permitam a fluência maluca dos pensamentos…).
O tom, que se apresenta inicialmente como um horror tradicional, começa a se desdobrar em um conto fabular, que brinca com nossa dúvida até que chegue ao clímax. E é justamente nele onde mora o perigo: tal qual no filme de Shyamalan (A Dama na Água) será difícil para a plateia crer, já que não está acostumada à fórmula. Talvez o estranhamento seja necessário, mas…
A audiência (baseado nos comentários que ouvi ao fim da sessão) parece aguardar ansiosa por uma grande reviravolta – seja ela uma pegadinha ao modo Jogos Mortais ou no mínimo algo meio Scooby-Doo. Algo que compense os sustos, como um biscoito que premia o ratinho na caixa de estímulos de Skinner.
E assim passarão despercebidas as duas referências a Hitchcock que o filme apresenta: quando vemos a câmera enquadrando os óculos de Victoria para mostrar um detalhe (Pacto Sinistro, também presente em Minority Report), ou quando o Dr. Dreyfuss usa o flash da câmera fotográfica para achar a ameaça (Janela Indiscreta). Ainda que as homenagens estejam lá, de Hitchcock se tem quase nada de fato, já que o filme se baseia mesmo num apanhado de sustos tolos, quando tem às mãos um terror psicológico muito mais cativante.
Assistido na sala 2 do Cinépolis.
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Vale assistir ao curta “Mamá”, que deu origem ao longa que hoje está em cartaz. Ele tornou-se uma cena do filme, feita de forma praticamente idêntica, mas mostrando que transformaram o material anterior em algo novo e distante do atmosfera claustrofóbica que Del Toro define na apresentação antes do curta em si: