Os melhores filmes que vi pela primeira vez em março (2020)

A obra-prima “The Night of The Thuner” de 1955.

Nesse hiato do blog, se tem outra coisa que sofreu pesado foi meu ritmo de ver filmes. Entre 2016 e 2018 foi uma negação, chegando a passar meses sem ir ao cinema e semanas sem ver filmes. Agenda de trabalho maluco, algumas séries (Breaking Bad, por exemplo) tomaram conta dos tempos livres.

Mas a coisa melhorou bastante em 2019 e, na quarentena, mais ainda. Tudo, tudo, tem ficado registrado no Letterboxd, na maioria das vezes com pequenos reviews. 

Aqui, rápidas indicações do melhor que vi em março:



Thief (1981, Michael Mann)

O filme de estreia de Michael Mann é um desses casos que já contém muito do que ele viria a ser como diretor. O realismo absoluto, a precisão com que trata o modus operandis, a identidade visual neo-noir/western-urbano, mas especialmente, sua maior marca: o aprofundamento das motivações e obsessões pelo que o protagonista faz, especialmente sobre nunca querer estar onde se está (e sempre desejando “o mar”).

Through a Glass Darkly (Ingmar Bergman, 1961)

Com estrutura mais linear e narrativa menos enigmática do que o padrão Bergman, não deixa de ser denso, existencialista e melancólico. Muitos quadros fortes, mas talvez o mais incrível seja de fato o barco encalhado nas pedras, onde Minus vai para encontrar Karin em sua crise emocional. É um filme sobre doenças emocionais, conexões familiares quebradas, mas no olhar de hoje também é o retrato de uma época em que problemas de saúde emocional como o de Karin eram tratados com terapia de choque. É assustador. E é também minha retomada a reassistir Bergman, que junto com Fellini e Hitchcock foi uma das minhas grandes “descobertas” no começo da cinefilia mais dedicada, lá pelos idos de 2004, 2005. Acho que não via um filme do sueco há pelo menos 10 anos.

Point Break (Kathryn Bigelow, 1991)

Redescoberta tardia, mas ainda assim fantástica. Sim, estamos falando de “Caçadores de Emoção” e você deveria dar uma chance de vê-lo depois de adulto. Lembro de ver na infância mas a memória é que era só um filme de surf. Quando você assiste no prisma da filmografia de Bigelow entende rápido como ela não só sabe o que faz com a câmera, mas como tem domínio completo de narrativas hawksinianas, sobre homens, suas missões, suas carências de adrenalina e suas fraquezas. Outra mudança extremamente importante é o formato de tela do filme: originalmente, víamos na “Sessão da Tarde” em 4:3, mas assim como “Os Aventureiros do Bairro Proibido”, tem muito mais imagem do filme – que era cortado na televisão.

Honey Boy (Alma Har’el, 2019)

Quem acompanha Shia LaBeouf em entrevistas sabe o quanto o cara sofre com problemas de saúde emocional. Isso veio à tona da pior forma, quando ele foi preso duas vezes (em 2008 e 2014) por embriaguez. Aqui está o resultado do que ele escreveu enquanto esteve em uma clínica de reabilitação: lembrou dos primeiros momentos como ator mirim, guiado por um pai perturbado (interpretado pelo LaBeouf) e abusivo. De certa forma, é um “coming of age” dos mais dramáticos.

Richard Jewell (Clint Eastwood, 2019)

O mais recente Eastwood continua a temática principal de heróis americanos da vida comum, mas o subtexto é sempre mais interessante: a desconstrução da visão desses heróis diante da América perfeita que projetam.

The Night of The Hunter (Charles Laughton, 1955)

Diretor de um filme só, Charles Laughton fez nada menos que uma obra-prima. Raríssimas vezes durante um filme eu paro pra demonstrar o quanto eu estou empolgado com um momento. Nesse, numa cena específica que representa a virada da narrativa, eu levei as mãos a cabeça, soltei um “o que está acontecendo?” e fiquei totalmente embasbacado – e aí que essa situação se repetiu outras duas ou três vezes. Não é só um dos melhores filmes que já vi, como um favorito pra vida. Pretendo escrever mais sobre ele, especialmente por ser um suspense de temática sombria, mas de mensagem claramente espiritual-cristã.

mid90s (Jonah Hill, 2018)

Primeiro filme dirigido pelo ator tem uma carga de verdade sobre os anos 90 que são raras por aí. Revisitando a época, ele trata coisas específicas de um jeito atemporal e universal. Rima bastante com o excelente Paranoid Park (Gus Van Sant, 2007) pela temática e no modo como retrata a letargia adolescente dos outsiders noventistas. Tá no Amazon Prime. 

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