A certa altura de Cruella, novo filme de origem de vilão da Disney, a protagonista aparece com “o futuro” escrito em seu rosto, em meio a uma performance provocativa que mistura moda e arte. E é assim que, se passando em uma Londres imaginada nos anos 1970, o filme toma uma decisão criativa e atraente que define seus rumos a partir dali.
Com bem mais camadas do que talvez eu estivesse esperando, Cruella é sobre pertencimento, perdas, vulnerabilidade, criatividade, mas também é uma conversa sobre a ruptura entre o moderno e pós-moderno na moda – e que acaba sendo sobre a arte em geral. Algo que tornaria o filme maior se houvesse mais disso em sua própria voz.
Estella, antes de ser Cruella, é a aprendiz de criativa da moda se rebelando contra sua mestra para mostrar suas fraquezas e limitações estéticas e morais. E seu modo de operar é uma referência ao Coringa, especialmente o de Tim Burton e aquela clássica cena do museu. Tudo é muito sério e debochado ao mesmo tempo. O caótico é necessário para o que ela quer dizer, assim como um punk londrino dos anos 1970.
O problema aqui está no dilema que o filme parece ter em definir seu público, afetando a possibilidade de tomar decisões mais arriscadas, mergulhando mais nas temáticas mais maduras que ensaia conversar. Afinal, o filme tem censura 13 anos nos EUA graças às referências a assassinato, às escolhas morais da própria protagonista e do que se revela da vilã na virada para o terceiro ato. Mas é meio óbvio porque o filme escolhe não entrar demais nesses temas, o que possivelmente o tornaria maior e mais impactante (e pela semelhança da história de origem de vilão até mais bem resolvida que o Coringa de Todd Philips).
Cruella é competente ao ser uma história de origem e consolida o território para a Disney retomar a franquia dos dálmatas para a geração dos vilões protagonistas.
[rating=3] | Onde ver: Disney+