Mare of Easttown: minissérie de investigação da HBO coloca o drama antes do mistério

Mare of Easttown é o trabalho da vida de Kate Winslet. Vivendo uma investigadora policial em uma cidade de pequeno porte, a atriz se desdobra em mil camadas sabendo exatamente em qual delas está no momento, conhecendo profundamente cada detalhe da vida de sua personagem.

E não é tarefa simples: Mare (se pronuncia “mér”) precisa desvendar mistérios clássicos das narrativas do gênero: o desaparecimento de uma jovem há 1 ano e o assassinato de outra, com possíveis conexões entre os dois casos. Acontece que ao escolher contar a história numa pequena cidade, a minissérie trabalha habilmente as relações de Mare e sua família e amigos: tudo caindo aos pedaços, relacionamentos desmoronando.

Episódio a episódio, somos apresentados a uma série de desdobramentos que a princípio podem não fazer sentido, mas pouco a pouco tecem uma colcha de retalhos melancólica e autoreflexiva. Forçada a fazer terapia graças a um trauma familiar, Mare vive na investigação e nas sessões com a terapeuta, um processo de autoconhecimento e perdão que, brilhantemente, se transformam no tema central da série.

“Mare” parece um apelido pouco típico para Marianne, o nome de fato da personagem. Mas ele diz muito: é tanto a palavra que se dá para uma égua adulta, mas também usada no sentido dificuldade. Afinal, como lembra um personagem num trocadilho que não se consegue traduzir na legenda em português, “have a good night, Mare”, traz a palavra “nightmare” na cacofonia da frase, que é nada menos que desejar um pesadelo quando se tenta sugerir apenas uma boa noite a ela. Mare of Easttown é, assim, uma história que carrega estorvos e contrariedades até no nome.

Não à toa: cada uma daquelas conexões, que às vezes parecem até que são esquecidas pelo roteiro em certos momentos, revelam gradativamente as vicissitudes da complexa costura de personagens que nos apresentam pacientemente a cada momento. A detetive Mare, de Easttown, enfim, ao terminar de remendar cada pedaço do que colhe entre investigações policiais e da própria vida, escolhe o gesto resiliente de quem vive um processo terapêutico bem sucedido e se cobre sem resistir a novos pesadelos.

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